quinta-feira, 10 de fevereiro de 2022

PoÉticas ArturiAnas

 



Federika Bezerra 

a mulher do tempo

linda felina de fellini

que o meu olho felino

descobriu

 

extasiado me pergunto

:

quem foi o grande zeus

que inventou

ou foi a mãe de eros

que pariu ?

Federico Baudelaire

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suspenso

      no Ar

não penso

 

atravesso

o portão da tua casa

o corpo em fogo

a carne em brasa


tudo arde

nas cinzas das horas

no silêncio da tarde 


vou entrando 

sem alarde

sem comício


como o pássaro

que acaba de cantar

em pleno hospício 


você pensa que escrevo em rua reta ou estrada sinuosa para você poesia é verso do inverso ou avesso de uma prosa¿  escrevi pscicanalítica 67 em mil novecentos e sessenta e sete numa madrugada de setembro outubro quando visitei meu pai no henrique roxo e vi vespasiano contra a parede dando cabeçadas no manicômio mais uma vida exterminada e no fim das contas noves fora nada

 

tudo o que eu queria dizer naquela hora explode agora quando atravesso o portão da tua casa o corpo em fogo a carne em brasa sem pensar estética estrutura estilo de linguagem sinto o desejo entre os teus mamilos a espera do beijo da esfinge que devora 

 

                                             Artur Gomes

PoÉticas ArturiAnas

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AntroPOPhagia

 

Hoje levei a tarde na minha conexão sonora com o melhor que existe na Música Popular Brasileira. Só de sagaranagem compartilho para os amigos o link no youtube deste maravilhoso show ao vivo em Nova York, da minha amiga Beatriz Azevedo, para que todos possam ouvir essa maravilha musical sobre este poema do Oswald de Andrade, que os cricri enrustidos, chamam de poesia piada.

 

 no baile da corte

 foi conde D quem disse

pra dona Benvinda

 que farinha de suruí

 pinga de parati

fumo de Baependi

é comer beber pitá e cair

 

Se não existisse a Semana de Arte Moderna de 1922, e não existisse Oswald de Andrade é bem possível que esse AntroPOPhagia também não existisse, não preciso nem dar outros exemplos para afirmar que a SEMANA DE ARTE MODERNA norteou os rumos da Arte no Brasil a partir dela, por isso sua importância viva 100 Anos Depois. Eu bebo sempre bebi da fonte Oswaldiana, Serafim Ponte Grande é um dos meus livros de cabeceira, e eterno companheiro de viagem.

 

Artur Gomes

#natrilhadofogo
#vamosdevorar22

Fulinaimicamente

www.fulinaimicamente.blogspot.com

 

clic no linc para assistir o show




Pátria A(r)mada

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ancestral

 


Peguei esta foto de Madame Satã ontem, que foi postada pelo grande Luis Mendes porque lembrei-me deste poema do livro inédito: O Homem Com A Flor Na Boca : Deus Não Joga Dados.

 

ancestral

 

há muito tempo não recebo

cartas de ninguém

mas não rezo padre nossos

simplesmente para dizer amém

já fui católico rezei terços ladainhas

acompanhei a procissão dos afogados

na Tapera

para soletrar a palavra ca co man ga

e entender que o barro da cerâmica

trago grudado na minha íris retina

meu batismo de fogo

foi numa Santa Cecília

entre víboras e serpentes

mordi a hóstia do padre

sua saia preta me levou ao pânico

de sonhar com juízes

e hoje saber o que são

minha África

são os olhos negros

de Madame Satã

na língua tenho uma sede felina

na carne essa fome pagã

sou um homem comum

filho de Ogum com Iansã

 

Artur Gomes

www.fulinaimagens.blogspot.com

 



 

SENTENÇA

 

faz muito tempo que eu venho

nos currais deste comício,

dando mingau de farinha

pra mesma dor que me alinha

ao lamaçal do hospício.

e quem me cansa as canelas

é que me rouba a cadeira,

eu sou quem pula a traseira

e ainda paga a passagem,

eu sou um número ímpar

só pra sobrar na contagem.

 

por outro lado, em meu corpo,

há uma parte que insiste,

feito um caju que apodrece

mas a castanha resiste,

eu tenho os olhos na espreita

e os bolsos cheios de pedras,

eu sou quem não se conforma

com a sentença ou desfeita,

eu sou quem bagunça a norma,

eu sou quem morre e não deita

 

Salgado Maranhão

O Homem Com A Flor Na Boca 

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Pátria A(r)mada

material para segunda edição

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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Tropicália - poema de Bernardo Caldeira

 


TROPICÁLIA

Moïse Kabagambe
– refugiado do Congo
e da dor. Cruzou o mar
em busca de um colo
nos braços abertos
do Redentor – morreu espancado
por cobrar seu salário
na cidade de encantos mil.
Amanhã terá sido
uma velha notícia
nas páginas amassadas
de algum jornal do Brasil.
No país das Tropicálias

 

                                     Bernardo Caldeira




quem fala que sou esquisito hermético

é porque não dou sopa estou sempre elétrico

nada que se aproxima nada me é estranho

                                         fulano sicrano beltrano

seja pedra seja planta seja bicho seja humano

quando quero saber o que ocorre à minha volta

ligo a tomada abro a janela escancaro a porta

experimento invento tudo nunca jamais me iludo

quero crer no que vem por aí beco escuro

me iludo passado presente futuro

                                         urro arre i urro

viro balanço reviro na palma da mão o dado

                                         futuro presente passado

tudo sentir total é chave de ouro do meu jogo

é fósforo que acende o fogo de minha mais alta razão

e na sequência de diferentes naipes

                                 quem fala de mim tem paixão

___________________________________________

[olho de lince | waly salomão]

Img. Xando Pereira

 fonte: Jussara Salazar 



Quando leio Mário Faustino o espírito sempre entra numa grande transa um "estado de poesia". Em 1983 depois da criação da Mostra Visual de Poesia Brasileira, o meu mergulho na sua obra se tornou intenso, e acabei em diversos momentos levando seus poemas para o repertório das minhas performances.

 Esse post do Lau Siqueira com VIDA TODA LINGUAGEM me levou a belas lembranças da minha querida e saudosa amiga Wilma Lima, da cidade de Santo André e do Alpharrabio, espaço onde por muitas vezes levei pra fala os seus poemas.

 

 

VIDA TODA LINGUAGEM

 

Vida toda linguagem,

frase perfeita sempre, talvez verso,

geralmente sem qualquer adjetivo,

coluna sem ornamento, geralmente partida.

Vida toda linguagem,

há entretanto um verbo, um verbo sempre, e um nome

aqui, ali, assegurando a perfeição

eterna do período, talvez verso,

talvez interjetivo, verso, verso.

Vida toda linguagem,

feto sugando em língua compassiva

o sangue que criança espalhará – oh metáfora ativa!

leite jorrado em fonte adolescente,

sêmen de homens maduros, verbo, verbo.

Vida toda linguagem,

bem o conhecem velhos que repetem,

contra negras janelas, cintilantes imagens

que lhes estrelam turvas trajetórias

Vida toda linguagem –

                                          como todos sabemos

conjugar esses verbos, nomear

esses nomes:

                       amar, fazer, destruir,

homem, mulher e besta, diabo e anjo

e deus talvez, e nada.

Vida toda linguagem,

vida sempre perfeita,

imperfeitos somente os vocábulos mortos

com que um homem jovem, nos terraços do inverno,

              / contra a chuva,

tenta fazê-la eterna – como se lhe faltasse

outra, imortal sintaxe

à vida que é perfeita

                       língua

                       eterna.

 

(Mário Faustino)

 



                  O Homem  Com A Flor Na Boca

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Pátria A(r)mada - por Ademir Assunção

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