quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

Dê Livros Dê Lírios Dê Beijos




A Biblioteca de São Francisco de Itabapoana aguarda a sua visita

Av. Vereador Edenites da Silva Viana, 255 - Centro 

LeiaLivros DoeLivros EspalheLivros PenseLivros para que em 2023 possamos começar a construção de um Brasil Novo.

Um Feliz Natal a todo(a)s amigos e amiga - Saúde Amor e Paz

 

Dê Livros

Dê Lírios

Dê Beijos

 

cacomanga

 

na roça desde cedo comecei a escavar palavras e separar uma das outras de acordo com o seu significado dar farelo de milho para os porcos e olhadura de cana para o gado aprendi que no terreiro não dependo de mercado e para que urbanidade se a cidade não tem paz com a enxada capinei a liberdade e descobri que ditadura é uma palavra que não cabe nunca mais

 

Artur Gomes

Pátria A(r)mada

1ª Edição – 2019

Prêmio Oswaldo de Andrade – UBE-Rio – 2020

2ª Edição – 2022 – Desconcertos Editora-SP

Leia mais no blog

https://arturgumesfulinaima.blogspot.com/






A Biblioteca Bracutaia aguarda a sua visita e o seu apoio. LeiaLivros DoeLivros EspalheLivros, para que em 2023 possamos começar a construção de um Brasil Novo.

 

Dê Livros

Dê Lírios

Dê Beijos

 

Um Feliz Natal, muito amor saúde e paz para todo(a)s amigos e amigas

 

Eu te desejo flores

lírios brancos margaridas

girassóis rosa vermelhas

tudo quando pétala

asas estrelas alecrim

bem-me-quer e alfazema

 

eu te desejo emblema

deste poema desvairado

com teu cheiro teu perfume teu sabor

teu suor tua doçura

e na mais santa loucura

desejar-te amor até os ossos

eu te desejo e posso

palavrAr-te até a morte

enquanto a vida nos procura

 

Artur Gomes

Juras Secretas - O Poeta Enquanto Coisa - Pátria A(r)mada - BraziLírica Pereira: A Traição das Metáforas - Suor & Cio - Jesus Cristo Cortador de Cana - Boi-Pintadinho - Couro Cru & Carne Viva - Além da Mesa Posta




Fulinaíma MultiProjetos

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quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

A Mulher Que Come Livros

 





Teatro do Absurdo 

a mulher  que come livros – cena 1

 

Federico - come vento menina come vento. não há mais metafísica no mundo do que comer vento

Clarice - prefiro chocolate

Federico - mas isso aí é um livro

Clarice - não faz mal, é como se fosse

Federico - como se fosse é muito vago

Clarice - pode ser vago pra você mas para mim não é

Federico - você é muito estranha

Clarice - estranha por quê?

Federico - parece até que come livros!

Clarice - e o quê você tem com isso? te incomoda?

Federico - calma, não precisar se irritar!

Clarice - mas quem disse que estou irritada?

Federico - do jeito que você fala!

Clarice - e você queria que eu falasse como?

Federico - normal

 

Clarice - mas eu falo normal como eu falo esse é o meu normal de falar.  Se não está gostando dá licença, e para de fazer perguntas.

Federico - grossa!

Clarice - não gosto de muitas perguntas. sou assim mesmo

Federico - mas não precisa xingar!

Clarice - e quem foi que xingou?

Federico - se não xingou foi quase

Clarice - me deixa em paz. que eu quero terminar de comer meu livro

Federico - é doida, comer seu livro?

Clarice - modo de dizer. já te disse sou assim mesmo

Federico - assim mesmo como?

Clarice - gosto de comer livros, romances, ficção, principalmente  poesia

Federico - quero dizer que ainda arde tua manhã em minha tarde

Clarice - nem vem que não tem

Federico - nem tem o quê?

Clarice - essa cantada barata

Federico - tua noite no meu dia

Clarice - vai insistir?

 

Federico  - tudo em nós que já foi feito com prazer ainda faria

Clarice - o que nós já fizemos? tá doido?

Federico - quero dizer que ainda é cedo ainda tenho um samba/enredo

Clarice - fique sabendo que prá mim é tarde

Federico - tudo em nós é carnaval é só vestir a fantasia

Clarice - detesto carnaval

Federico - quero ser teu mestre sala e você porta/bandeira. quando chegar a quarta-feira a gente inventa outra folia

Clarice - você quer fazer o favor de me deixar de comer meu livro

Federico - vai me dizer que não gostou?

Clarice - detestei.  cantada barata igual a essa eu já ouvi de um monte

Federico - duvido!

Clarice - então fica aí com a sua dúvida por quê quanto a isso eu não tenho nenhuma. e me dá licença que eu vou terminar de comer meu livro

(lendo o livro) come chocolate menina, come chocolate. não há mais meta física no mundo do que comer chocolate.



Teatro do Absurdo – A Mulher Que Come Livros

A Mulher Que Matou os peixes

Cena 2


Federico - ei vai pra onde?

Clarice – vou ali terminar de comer meu livro

Federico – come aqui mesmo

Clarice – então para de me fazer perguntas

Federico – não posso

Clarice – não pode por quê?

Federico – porque sou curioso

Clarice – curiosidade mata

Federico – você é a mulher que matou os peixes?

Clarice – na outra vida, outra encarnação

Federico – e você acredita nisso?

Clarice – claro que acredito, tanto é que estou aqui. E agora não mato peixes, agora como livros. E para comer livros não preciso matar, basta guardar, preservar, para ler na hora que tenho vontade.

Federico – mas por quê você tem vontade de comer livros?

Clarice – para me enriquecer de conhecimentos, informações, ter contato com os sentimentos dos outros e as suas visões de mundo.

Federico – mas isso a gente encontra no carnaval – no desfile das Escolas de Samba por exemplo

Clarice – mas eu já lhe disse, detesto carnaval

Federico – Isso porque você nunca viu. Nunca foi na marquês de Sapucaí

Clarice – não muda de assunto não, e acho bom você me deixar terminar de comer meu livro

Federico – a fome é tanta assim?

Clarice – fome, sede, desejo tudo junto misturado

Federico – você não sabe fazer outra coisa não?

Clarice – procuro... procuro mas não encontro, outra coisa que me dê tanta satisfação como comer livros! E acho que você deveria fazer o mesmo.

Federico – tá doida. Era só o que me faltava eu um Mestre/Sala da Mocidade Independente de Padre Olivácio a Escola de Samba Oculta no Inconsciente Coletivo, comendo livro!

Clarice – e qual é o grande problema nessa questão, eu por exemplo. Já matei os peixes, hoje como livros. Não vejo nenhuma contradição. Porque você que se diz mestre/sala não pode comer um livro?

Federico – simplesmente porque gosto do movimentos dos corpos sambando na avenida

Clarice – mas isso é muito pouco – eu gosto de comer livros porque cada coisa tem o instante em que ela é, e eu quero me apossar do é da coisa. E para mim corpos em movimento na avenida não significa coisa alguma. Não vejo graça nenhuma em carnaval. 



 Teatro do Absurdo – Hermínia A mãe da mulher que come livros - cena 3 

Hermínia, mãe de Clarice, anda de um lado a outro do palco, apavorada porque Clarice não come mais nada, a não ser livros.


Hermínia - Essa menina vai me enlouquecer, não almoça, não lancha, não janta, só quer saber que  comer livros. (grita); Clarice!

de algum lugar Clarice responde:

- que é minha mãe, a senhora quer fazer o favor de me deixar em paz para continuar a comer meu livro!

Hermínia - Clarice, você já almoçou ou fez um lanche pelo menos? Não pode ficar o dia inteiro sem comer nada. Você sabe que pode comer tudo, só não pode comer alimentos que contenham glúten.

Clarice - Pois é mãe, livros não têm!

Hermínia - daqui a pouco você adoece  e aí?

Clarice - E aí o quê?

Hermínia - e aí, que eu desempregada sem salário, num sufoco que só Deus sabe. Nem farmácia popular temos mais, o golpista acabou com todos os programas sociais. Como eu vou me virar com você doente? Eu morro.

Clarice – não se desespere mãe amanhã será outro dia

Hermínia – mas esse outro dia está demorando, muito a chegar

Clarice – está logo ali mães, na rama do planalto, dia 1 de janeiro ele chega

Hermínia – ele quem?

Clarice – ele mãe que está c antado na música e no livro do Chico, estou procurando aqui para comer mas não estou encontrando

Hermínia – com certeza os neonazistas genocidas devem ter queimado na fogueira

Clarice – mas não é possível ontem mesmo este livro estava aqui

Hermínia – mas eles são assim mesmo., chegam as ocultas na calada da madrugada, as vezes antes mesmo do amanhecer e no cercadinho do planalto acendem as fogueiras da ignorância 




Gigi e Federika – Teatro do Absurdo A Mulher que come livros – cena 4

 

Gigi – Federika você viu que coisa estranha?

Federika – o que é Gigi, você está igual ao Federico não para de fazer perguntas.

Gigi – aquela mulher que come livros

Federika – deve estar com fome, não tendo nada para comer a saída é comer livros- ao invés de comer vento

Gigi – mas será que ele não tem nada para comer em casa, coitada!

Federika –coitada nada, cada um mata a fome com o que tem.

Gigi – crueldade!

Federika – crueldade por quê?

Gigi - Uns com tanto outros com nada

Federika – mas ela tem uma quantidade enorme de livros

Gigi – mas será que comer livros mata a fome?

Federika – lá vem você com perguntas novamente

Gigi – o que a gente não sabe tem de perguntar mesmo

Federika – a vida é uma audaciosa metáfora

Gigi – que m te disse isso?

Federika – EuGênio, li no livro dele Invasão dos Corpos

Gigi – será que é este livro que a Clarice está comendo?

Federika – acho que não porque esses dias ela estava lendo A Paixão Segundo G H

Gigi – nunca li

Federika – mas devia para deixar de fazer tantas perguntas

Gigi – você conhece ele?

Federika – Quem?

Gigi – EuGênio, o autor do livro

Federika – claro que conheço ele mora lá em casa. Mas o livro dele não é A Paixão Segundo G H, esse é da Clarice Lispecto. O livro dele é Invasão dos Corpos, uma estória sobre discos voadores que acontece na cidade de Jardinópolis 

Gigi – meu Zeus que loucura !

Federika – loucura nada a Vida é uma audaciosa metáfora

Gigi – mas o que é metáfora?

Federika – figura de linguagem

Gigi – mas isso é muito vago

Federika – está repetindo o Federico, para ele tudo é muito vago, menos a Mocidade Independente

Gigi – eu também adora a Mocidade. Amo

Federika – por quê?

Gigi – porque sou a Rainha!

Federika – Rainha?

Gigi – é Rainha da Bateria, eleita pela décima segunda vez consecutiva

Federika – mas você nem sabe sambar

Gigi – e quem disse que pra ser Rainha de Bateia precisa saber sambar

Federika – e não precisa?

Gigi – claro que não basta ser a garota do patrono

Federika – deixa eu entrar e terminar de ler O Homem Com A Flor Na Boca porque essa conversa está ficando muito esquisita





 Teatro do Absurdo 2

A Invasão Cibernética em Jardinópolis

Cena 5


Bruna e Bárbara. travam uma cena de ciúmes movidas pela mesma paixão por Federico Baudelaire

 

Bruna - viu o que você fez?

Bárbara - fiz o quê?

Bruna - não se faça de sonsa, você olhou pra ele!

Bárbara - e agora até  olhar é proibido?

Bruna - não. não é, mas ele é meu!

Bárbara - tem escritura da sua propriedade ?

Bruna - não é necessário, porque ele também sabe!

Bárbara - ele quem?

Bruna - não se faça de besta que você viu muito bem pra quem você olhou!

Bárbara - até então acho que olhar é um ato de liberdade. eu olho para tudo!

Bruna - mas para ele não pode

Bárbara - só porque você quer

Bruna - quero mesmo, quero e posso!

Bárbara - vai ficar querendo. porque jamais vai poder me impedir de olhar para onde eu quiser

Bruna - se o disco voador passar aqui novamente e você olhar para ele, juro que te mato.

Bábara - vai ficar jurando, os tempos de Calabar já se foram querida!

Bruna - Cala a boca Bárbara!

Bárbara - ele sabe dos caminhos dessa minha terra. nos meus braços se escondeu!

Bruna - pode debochar, depois não vá dizer que não avisei

Bárbara - nas bandeiras seus lençóis, nas trincheiras tantos ais, no meu corpo tanto cais!

Bruna - suas tempestades não me interessam, e o seu olhar, sou eu quem digo para onde deve se dirigir.


Bárbara - vem meu menino vadio, vem sem mentir pra você

Bruna - Canta, canta, pode cantar porque depois vai chorar na cama

Bárbara - vem... vem... vem... e me leva no seu disco voador seja para marte, ou seja lá para onde for.

Bruna - sonha. sonha que ele vai te levar,  porque daqui você não sai, vai ficar aqui comendo vento, porque quem vai com ele sou eu...




 Teatro do Absurdo  -

3 mulheres à beira de um ataque de nervos

Cena 6

 

Marisa está  na ponta de uma mesa olhando para o fundo de uma caneta vazia como se olhasse no Espelho

Marlise está na outra ponta da mesa com um prato cheio de carne

Dadete - está num canto da cozinha com uma vassoura varrendo o chão

Marisa - meu manto. meu manto! (olhando no fundo da caneta) você viu meu manto meu gato? Isso é coisa do Saraiva, mim mesma acha que um Bispo do Rosário baixou por aqui

Marlise - danou-se tem gente que enlouquece e vive falando sozinha

Dadete - ainda se fosse e falasse a língua dos homens, no Rio Grande estão comendo até cachorro de Bispo

Marisa - não sou profeta mas tenho premonições, previ que os chineses iriam descobrir a pólvora e fabricar papel

Marlise - vai dizer também que previu que eu iria ser gordinha?

Marisa - Claro comendo carne desse jeito, não poderia star de outra forma

Dadete - no Rio Grande come-se até as Dunas

Marisa - ainda se fosse as do Barato vá lá. Mas comer areai branca ninguém  merece

Marlise- eu como o que posso, e o que não posso deixo pra lá. No outro Rio Grande tem um ditado que diz que cada um come o que tem.

Dadete- o corpo, pronto eu como o corpo, e não deixo nada pro vento, as dunas são testemunhas do quanto eu gosto de comer o corpo

Marisa - mim mesma não está comendo nada, nem Edmilson na feira de São Cristóvão. Aliás, mim mesma tem andado de dieta pra lua, só bebe água e cheira vento

Marlise - cruzes! se eu fizesse isso desmaiava na primeira tempestade de areia.

Dadete- claro, nunca vi gostar tanto de boi. cuidad0 boi demais pode dar febre suína

Marisa - essa não Dadete, como comer boi pode dar febre suína?

Dadete - no Rio Grande nas dunas teve um caso dessa na praia do Peró. A mulher do delegado comeu um boi e acordou roncando que nem uma porca.

Marlise - No Arraial do Cabo também aconteceu, porque lá tem a mesma praia do Peró, ecom a mesma mulher do delegado aconteceu a mesma coisa.

Marisa - bem que mim mesma  previu, que coincidências acontecem não por meras semelhanças, mas por falta de marido mesmo

Dadete - ô mim mesma, o que tem uma coisa a ver com falta de marido?

Marisa - Claro que tem, mim mesma mesmo me disse quando me viu jogada no chão: - quando nasci um anjo torto veio ler a minha mão!

Marlise - mim mesma é cartomante!?

Dadete- não ela joga búzios e lê a sorte em cartas de tarô!

Marisa - nada disso, mim mesma é chegada a uma borra de café. No fundo da xícara ela lê tudo o que já aconteceu e o que virá a acontecer com milênios de antecedência

Marlise - e o vento leva?

Dadete - o vento sempre me leva pro outro lado, mesmo que eu nem queira atravessar o outro corpo que me prende nesse lado da cozinha

Marisa - com mim mesma, é quase assim também, dia desses quero ser uma grande menina de Londres, para badalar o Big Ben

Marlise - coitada , tá mais pra menina da Pavuna

Dadete - você não sabe de nada Marlise. Mim mesma tem uma coisa muito estranha, na outra vez que nos encontramos em carnaval dos copos, ela me disse que tinha jantado Ronaldo Werneck na cachaçaria.

Marisa - mas isso já faz tempo. passou, e me deu um enjôo daquele pensei até que tinha engravidado!

Marlise - e Ademir soube disso?

Marisa - Uai! e porque ele teria de saber?

Dadete - claro que sim, ele tinha que saber, pois não é ele que te leva pra Cachaçaria?

Marisa - me leva mas me larga lá entregue a fome, se eu não me virar com o que tem morro de desejo. Mim mesma sempre me disse: - em momentos como esse não se apavore nem tenha ataque de nervos, se vira como pode. - eu que não sou besta não deixo o vento passar despercebido, me agarro em suas crinas e meto os dentes nele.

 

Marlise- comer vento? coisa de mim mesma mesmo. Não tivesse eu umas carninhas sempre a disposição, minhas gordurinhas desapareciam todas num piscar de olhos.

Dadete - é por isso que no Rio Grande está desaparecendo  vento. Quando consegue passar por lá mim mesma estraçalha tudo

Marisa - mas também não é bem assim, tudo tem seu vento certo, e os nervos só se acalmam com umas dentadas bem dadas no lado esquerdo da tempestade quando a ventania passa...

- do outro lado da casa ouve-se um grito: Mim mesma! - as 3 mulheres se desfazem num segundo e desaparecem no vento 


Teatro Do Absurdo – A Mulher Que Come Livros – 

Cena 7 - Invasão dos Corpos

 

EuGênio  - porra esse vento hoje tá foda,  já destelhou a minha telha, apagou a minha trilha e essas minas caretas que nem sabe que eu existo, ficam aí conversando  com fantasmas.

 (dirigindo-se para Zelda, que  encontrava-se distraída olhando para o teto ao lado da parede lateral esquerda quase no fundo do palco)  ei você? quem é?

 

Zelda Scot - Zelda, estou aqui porque procuro um livro que me indicaram para ler, mas não estou encontrando, e uma amiga me disse que é o máximo, fala sobre uma invasão.

EuGênio  - besteira, invasão nenhuma, tenho certeza que o livro que elas leram é ficção. acredita nisso não!

Zelda Scot - mas Clarice minha prima, está tão impressionada que ela come o livro de tanto que lê.

EuGênio - ela deveria estar comendo outras coisas e não livro. Livro é lá coisa que se coma?

Zelda Scot - mas é melhor comer livro do que comer vento, como tenho ouvido dizer que está acontecendo no Rio Grande

EuGênio - ah! isso deve ser notícias dessas redes sociais, é tudo fake, tem nada disso não. você acredita no que lê no Whatsapp  por exemplo?

Zelda Scot - em alguma coisa que leio sim, como não vou acreditar?

EuGênio - essa onda agora da exposição censurada pelo Santander lá no Rio Grande você já leu?

Zelda Scot - censurada por quê?

EuGênio -  um bando de imbecis, babacas, idiotas que se dizem do MBL ( Movimento Brasil Livre) fizeram manifestações fascistas chamando as obras expostas de "arte degenerada", classificando-as de pedofilia e zoofilia

Zelda Scot - nem sei do que se trata!

EuG~enio - você precisa saber, leia meu livro querendo te empresto

Zelda Scot - fala sobre o quê?

EuGênio - Invasão de corpos!

Zelda Scot - ah! então é você o EuGênio Mallamè e?

EuGênio - Muito Prazer! estamos aí por toda cidade espalhando em suor a felicidade!

 

Zelda Scot - mas isso não é muito perigoso? Invasão de Corpos?

EuGênio - Mas desde Guimarães Rosa, que viver é muito perigoso, mas ficção é só ficção, e como dizia Belchior:  isso é apenas uma canção, a vida realmente é diferente ao vivo é muito pior?

Zelda Scot - Mas é um livro ou uma canção?

EuGênio  - Se quiser saber mesmo só ir  me encontrar  a noite no Bar do Chico, aqui não dá para explicar!

Zeld Scot - por quê? o livro é um livro proibido?

EuGênio - Não, o livro não é proibido mas a carne pelo preço que está, essa sim é proibida

Zelda Scot - então está bem nos encontramos a noite no Bar do Chico.

EuGênio - Não chegue antes da meia noite, porque senão não poderei explicar também

Zelda Scot - está bem chego depois da meia noite

EuGênio - depois que todos forem dormir ...

 

os dois e abraçam e saem de mãos dadas pelo fundo do palco 




Teatro do Absurdo – A mulher que come livros  

Cena 8

 

Vagner - Clarice!

Clarice - o que é Vagner

Vagner - o que tanto lê aí nesse estranho livro?

Clarice - é sobre a possibilidade de uma invasão cibernética que vai acontecer em 2020

Vagner - Pirou?

Clarice - não é o que o cientista está dizendo aqui?

Vagner - qual é o nome dele?

Clarice - Federico Baudelaire

Vagner - claro só podia ser ele , esse cara é louco!

Clarice - mas  o que ele está dizendo aqui tem lógica

Vagner - bebeu?

Clarice - Água

Vagner - pelo jeito acho que não foi água não

Clarice - está duvidando de mim?

Vagner - claro que duvido. nem te conheço direito, e você passa o tempo todo enfiada nesse livro, escrito por um maluco, que acha que vamos ter invasão cibernética, como não vou duvidar?

Clarice - mas você devia acreditar, tudo leva a crer que esta invasão pode acontecer mesmo.

Vagner - Só porque você quer. acho que seus neurônios já não estão funcionando muito bem não.

Clarice - você é um ateu não acredita em nada

Vagner - eu acredito em muita coisa, mas não posso acreditar num absurdo desses

Clarice - só porque é cego

Vagner - se fosse cego não estaria te vendo aí.

Clarice - como está me vendo?

Vagner - com os olhos

Clarice - não foi isso que perguntei

Vagner - como perguntou então?

Clarice - de que maneira está me vendo, feia, bonita, linda, elegante.

Vagner - não tem espelho não?

Clarice - mal educado!

Vagner - não se trata de educação, é uma questão de ponto de vista.

Clarice - mas não respondeu minha pergunta!

Vagner - você se acha!

Clarice - há muito tempo, desde que me olhei a primeira vez no espelho

Vagner - deve ser por isso que acredita em invasão cibernética

Clarice - Vamos mudar de assunto, porque já está m torrando o saco essa sua conversa

Vagner - mudar pra quê?

Clarice - vou tomar um banho para ir ao super mercado

Vagner - quanta vaidade! precisa tomar banho para ir ao super mercado?

Clarice - questão de higiene meu caro!

Vagner - boa viagem...

 

Clarice sai e deixa Vagner falando sozinho...

 



A Mulher Que Come Livros - Última Cena – Federico Baudelaire – Eu sou Drummundo

 

Clarice me deixou vazio, de tata paixão por G H secou os meus e-mails meus inteiros, me deixou a ver navios, me jogou em São Francisco. Poesia é risco, o poeta é um fingidor na obra de Fernando Pessoa, mas Itabapoana é pedra pássaro pedra que voa. Não a mulher que come livros não é apena pelo desejo de ler, mas sim pela fome de arroz, feijão, macarrão, carne, chocolate, e também pela sede de sobreviver dessa barbárie para onde nos empurraram desde 2016.

era uma vez um mangue e por onde andará Macunaíma na tua carn no teu sangue na medula no teu osso por acaso ainda existe algum vestígio de Macunaíma na veia do teu pescoço

guima meu mestre guima em mil perdões
eu vos peço por esta obra encarnada na carne cabra da peste da hygia ferreira bem casta
aqui nas bandas do leste a fome de carne é madrasta

ave palavra profana cabala que vos fazia
veredas em mais sagaranas a morte em vidas severinas tal qual antropofagia
teu grande serTão vou cumer

nem joão cabral Severino nem virgulino de matraca nem meu padrinho de pia me ensinou usar faca ou da palavra o fazer

a ferramenta que afino roubei do mestre drummundo qyue o diabo giramundo é o narciso do meu ser

não. não bastaria a poesia de algum bonde que despenca lua nos meus cílios num trapézio de pingentes onde a lapa carregada de pivetes nos seus arcos ferindo a fria noite como um tapa
vai fazendo amor por entre os trilhos.

não. não bastaria a poesia cristalina se rasgando o corpo estão muitas meninas tentando a sorte em cada porta de metrô. e nós poetas desvendando palavrinhas vamos dançando uma vertigemno tal circo voador.

não. não bastaria todo riso pelas praças nem o amor que os pombos tecem pelos milhos com os pardais despedaçando nas vidraças e as mulheres cuidando dos seus filhos.

não bastaria delirar Copacabana e esta coisa de sal que não me engana a lua na carne navalhando um charme gay e uma cheiro de fêmea no ar devorador

aparentando realismo hiper-moderno,
num corpo de anjo que não foi meu deus quem fez esse gosto de coisa do inferno como provar do amor no posto seis numa cósmica e profana poesia entre as pedras e o mar do Arpoador
uma mistura de feitiço e fantasia em altas ondas de mistérios que são vossos

não. não bastaria toda poesia que eu trago em minha alma um tanto porca, este postal com uma imagem meio Lorca: um bondinho aterrizando lá na Urca e esta cidade deitando água em meus destroços pois se o cristo redentor deixasse a pedra na certa nunca mais rezaria padre-nossos e na certa só faria poesia com os meus ossos.

 

Artur Gomes

Fulinaíma MultiProjetos

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Artur Gomes -Pátria A(r)mada

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