Artur
Gomes
Pátria A(r)mada
Prêmio Oswald de Andrade
UBE-Rio – 2020
2ª Edição Revisada e Ampliada
*
PÁTRIA A(R)MADA
1
Artur Gomes é daqueles poetas que não se contentam em grafar suas palavras apenas nas páginas de um livro. Ele inscreve seus poemas no próprio corpo, na própria voz. Misto de ator saltimbanco e trovador contemporâneo, seus versos ritmados e musicais redobram a força quando saltam do papel para a garganta. O CD Fulinaíma – Sax, Blues Poesia, que gravou em parceria com os músicos Dalton Freire, Luiz Ribeiro, Naiman e ReubesPess, nos primórdios deste terceiro milênio, é uma das experiências mais bem-sucedidas da fusão entre poesia oralizada e música: os versos lancinantes surgem como navalhas de corte preciso entre os blues, bossas, rocks e baladas. Navalhas que acariciam, mas também cortam a pele do ouvinte.
Há delícia e dor em sua poética. Uma delícia sensual, sexual, que se explicita em versos como
“poderia abrir teu corpo / com os meus dentes / rasgar panos e sedas // com as unhas /arreganhar as tuas fendas / desatar todos os nós // da tua cama arrancar os cobertores / rasgando as rendas dos lençóis”.
Há dor por uma terra prometida e sempre adiada,
“por uma bandeira arriada / num país que não levanta”.
É nesse espaço entre a delícia e a dor que o trovador levanta sua voz e emite seus brasões em alto e bom salto, a plenos pulmões:
“eu não tenho pretensões de ser moderno / nem escrevo poesia pensando em ser eterno / veja bem na minha língua as labaredas do inferno / e só use o meu poema com a força de quem xinga”.
2
Cada poeta escolhe sua tribo, reinventa seus ancestrais. A tribo de Artur Gomes vem de uma vasta tradição de trovadores inquietos e inquietantes, hábeis no trato do verso e ferinos no uso do humor, do amor e da revolta. Uma linhagem que vai de Artaut Daniel a Zé Limeira e passa por Oswald de Andrade, Torquato Neto, Paulo Leminski e Uilcon Pereira, para listar alguns.
Cada poeta inventa também o território mítico onde mergulha sua poesia e sua própria vida. Alguns de maneira explícita, outros, mais velada. Há muitos anos surge na poesia de Artur o termo “Fulinaíma”, como uma Macondo espectral, que perpassa livros, sobe aos palcos, atravessa as faixas do CD. Seria um território de folias macunaímicas, uma terra de prazeres e ócios criativos, avessa ao eterno passado colonial que não conseguimos nunca superar, como o fantasma de antigos engenhos em que a
“usina / mói a cana / o caldo e o bagaço // usina / mói o braço / a carne o osso // usina / mói o sangue / a fruta e o caroço // tritura suga torce / dos pés até o pescoço”?
3
Artur Gomes é também daqueles poetas que vivem reescrevendo seus poemas, reinserindo-os em outros contextos, reinventando “a poesia que a gente não vive”, aquela mesma que transforma “o tédio em melodia” - para relembrar Cazuza, outro bardo pertencente a mesma tribo. Quem acompanha sua trajetória errante e anárquica provavelmente vai identificar neste livro poemas já publicados em outros – porém, com modificações de tonalidades, de timbres, de intenções.
Se não é despropositado pensar que Dante Alighieri enxertou em sua Divina
Comédia inúmeras desavenças políticas, sociais e culturais de sua época e
mandou para o inferno pencas de seus inimigos florentinos, é interessante
perceber este Pátria A(r)mada reinventado no contexto deste Brasil que
retrocedeu décadas depois do golpe político-jurídico-midiático deflagrado em
2016. Esses tempos passarão, é certo, mas este livro ficará – como um potente
desconforto, um desajuste, um desconcerto desse mundo cão e chão. Se vale como
trágica profecia – ao modo do cego Tirésias –, após um breve período de sonhos
que mais uma vez não se cumpriram, os olhos abertos desses versos ecoarão
nos ouvidos de muitos e cortarão a carne de tantos:
“ó, baby, a coisa por aqui não mudou nada / embora sejam outras siglas no emblema / espada continua a ser espada / poema continua a ser poema”.
Ademir Assunção – poeta, escritor, jornalista e letrista de música brasileira. Autor de livros de poesia, ficção e jornalismo, venceu o Prêmio Jabuti 2013 com A voz do Ventríloquo (Melhor Livro de Poesia do ano). Poemas e contos de sua autoria foram traduzidos para o inglês, espanhol e alemão, e publicados em livros e revistas na Argentina, México, Peru e EUA.
A vida sempre em
suspense
alegria prova dos nove
fanatismo nã0 me convence
muito menos me comove
Artur Gomes Fuliaíma
olho de lince
para
Tchello d´Barros
onde engendro
a Sagarana
invento
a Sagaranagem
entre a vertigem
e a voragem
na palavra
de origem
entre a língua
e a miragem
São Bernardo
e Diadema
mordendo: o vírus da linguagem
no olho de lince do poema
Navegar é
preciso
para Fernando Aguiar
Aqui
redes em pânico
pescam esqueletos no mar
esquadras descobrimento
espinhas de peixe convento
cabrálias esperas relento
escamas secas no prato
e um cheiro podre no AR
caranguejos explodem
mangues em pólvora
é surreal a nossa realidade
tubarões famintos devoram cadáveres
em nossa sala de jantar
como levar o barco
em meio a essa tempestade
navegar é preciso
mas está dificilíssimo navegar
mas a gente lança
sem nem mesmo saber
se alcança
o número que se quer
mas como me disse mallarmè
:
- vida não é lance de dedos
A vida e lança de dardos
Deus não arde no fogo
mas
eu ardo
no país
da
pandemônia
se é corrupto branco rico
e fez parte de algum golpe
de estado
o mandato é de prisão
se é negro pobre favelado
o mandato é execução
poema a(r)mado
todos os dias
capino a esperança
escavando outras palavras
no chão desse quintal
e quando escrevo com enxada
o poema é mais real
cacomanga
na roça desde cedo comecei
a escavar palavras e separar uma das outras de acordo com o seu significado dar
farelo de milho para os porcos e olhadura de cana para o gado aprendi que no
terreiro não dependo de mercado e para que urbanidade se a cidade não tem paz
com a enxada capinei a liberdade e descobri que ditadura é uma palavra que não
cabe nunca mais
das veredas do
silêncio
as vielas dos
escombros
não sei mais por
onde ando
nesse país agora
esgoto
esgotada todas as
possibilidades
da fala escrevo alto
dando descarga na
privada
da latrina
pública
no banheiro do
palácio do planalto
Pastor de Andrade
quando escrevo e eu mesmo não entendo o
significado de uma determinada metáfora lanço a maldita no vento invento outra
e vou ao centro do universo e xingo teu nome garrutio lamparão de bico kabrunco
de poema que não me dá sossego
Federika
Lispector
fulinaíma sax blues poesia
ela era Bruna
em noite de blues rasgado
soltou a voz feito joplin
num canto desesperado
por ser primeiro de abril
aquele dia marcado
a voz rasgou a garganta
da santa loucura santa
com tanta força no canto
que até hoje me lembro
daquela musa na sala
com tua boca do inferno
beijando meus dentes na
fala
testamento
a tesoura rasga o tecido da carne
enquanto sangra
no processo cirúrgico do poema
corta de cada palavra a sílaba
que não presta
de cada frase a palavra
de cada sílaba a letra morfa
e o poeta vai vivendo no que resta
No universo paralelo
Tenho mestrado Bíblico
Em chá de cogumelo
Federico Baudelaire
Pássaros Elétricos
Vivem a vida por um fio
Federika Bezerra
Deus não joga Dados
Mais eu lanço
EuGênio Mallarmè
Dê
livros
Dê
Beijos
Dê
Lírios
Gigi Mocidade
pan(demônica)
para
Salgado Maranhão
inspirado
no seu poema Pá
passeio os pés descalços
sobre covas rasas
contando ossos no poema exposto
no sujeito do objeto
tudo isso exposto
nesse papo reto
segue o passo norte
não leio cartas de suicídio
nem decreto de hospício
na tentação que me conforte
quero matar o genocídio
pra não morrer antes da morte
metáfora
Quem
cada poeta tem a sua pessoal linguagem vertigem voltagem espanto. alguns tem até desmaios. uns escrevem outros cantam outras falam. conheci um que me dizia ouvir vozes não só apenas Ferreira Gullar. uma outra queria ter meu fogo. uma outra é a mulher que só em sonhos sabe o quanto bem-me-quer. outra se assanhava diante do espelho. alguns são mágicos como uns que brincam com o sal do maranhão. outros são flechas certeiras atiradas em nosso peito. dois que conheci dando os primeiros passos um pensava na fábrica o outro em Regis Bonvicino, hoje um corsário o outro cult. nem sei porque estou escrevendo isso. é que ontem conversando com um por telefone descobri mais um montão de particularidades sobre ele. conheci um também grande mestre e amigo que só queria saber de escritemas e gostava de ensinar curto circuitos. agora esse é Quem e chegou ontem em Campos na casa da minha irmã depois de 2 meses postado nos correios em São Paulo. me lembro agora dos passeios com Flora na praça General Osório em Ipanema que encontrava sempre um que me dizia ter um poema escrito só com a palavra Bunda mas que só permitiria ser publicado depois da sua morte e gostava de afirmar também que prefácio não é bengala. eu sou um Homem Com A Flor Na Boca, de cactos, de lótus, de lírios que me trazem conteúdo. e baudelérico baudelírico despetalo pétala por pétala com espinhos com talo com tudo.
Couro Cru & Carne Viva – 1987
*
terra de santa cruz
I
ao batizarem-te
deram-te o nome:
posto que a tua profissão
é abrir-te em camas
dar-te em ferro
ouro
prata
rios
peixes
minas
mata
deixar que os abutres
devorem-te na carne
o derradeiro verme
II
salgado mar de fezes
batendo nas muralhas
do meu sangue confidente
quem botou o branco
na bandeira de alfenas
na certa se esqueceu
das orações dos penitentes
e da corda que estraçalha
com os culhões de Tiradentes
III
salve lindo pendão que balança
entre as pernas abertas da paz
tua nobre sifilítica herança
dos rendez-vous de impérios atrás
IV
meu coração
é tão hipócrita que não janta
e mais imbecil que ainda canta:
ou
viram
no Ipiranga
às margens plácidas
uma bandeira arriada
num país que não levanta
V
só desfraldando
a bandeira tropicalha
é que a gente avacalha
com as chaves dos mistérios
dessa terra tão servil
tirania sacanagem safadeza
tudo rima uma beleza
com a pátria mãe que nos pariu
1º de Abril
telefonaram-me
avisando-me que vinhas
na noite uma estrela
ainda brigava contra a escuridão
na rua sob patas
tombavam homens indefesos
esperei-te 20 anos
até hoje não vieste à minha porta
VI
o poeta estraçalha a bandeira
raia o sol marginal quarta feira
na Geléia Geral brasileira
o céu de abril não é de anil
nem general é my Brazyl
minha verde/amarela esperança
Portugal já vendeu para França
e coração latino balança
entre o mar do dólar do norte
e o chão dos cruzeiros do sul
VII
o poeta esfrangalha a bandeira
raia o sol marginal sexta feira
nesta porra estrangeira e azul
que há muito índio dizia:
meu coração marçal tupã
sangra tupy & rock and roll
meu sangue tupiniquim
em corpo tupinambá
samba jongo maculelê
maracatu boi bumbá
a veia de curumim
é coca cola & guaraná
VIII
o sangue rola no parque
o sonho ralo no tanque
nada a ver com tipo dark
e muito menos com punk
meu vício letal é baiafro
com ódio mortal de yank
IX
ó baby a coisa por aqui
não mudou nada
embora sejam outras
siglas no emblema
espada continua a ser espada
poema continua a ser poema
neste país de fogo & palha
se falta lenha na fornalha
uma mordaz língua não falha
cospe grosso na panela
da imperial tropicanalha
não metam nestes planos
verdes/amarelos
meus dentes vãos/armados
nem foices nem martelos
meus dentes encarnados
alvos brancos belos
já estão desenganados
desta sopa de farelos
PESSOA
não tenho pretensões
de ser moderno
nem escrevo poesia
pensando em ser eterno.
veja na minha língua
as labaredas do inferno
e só use o meu poema
com a força de quem xinga.
GENITAL
pasto no cosmo
a soja secular de Jardinópolis
onde os discos-voadores
sobrevoam meu nariz
na cara das metrópoles.
no centro ao sul
os cemitérios
possuem mais mistérios
que a nossa vã filosofia.
tem um animal de vagina espacial
na poesia
&
e um grande pênis roxo
milenar
feito espiral em círculo
preparando imenso orgasmo
pra festejar o fim do século.
TROPICALIRISMO
GIRAssóis pousando
Nu – teu corpo: festa
beija-flor seresta
poesia fosse
esse sol que emana
no teu fogo farto
lambuzando a uva
de saliva doce.
LENÇÓIS
DE RENDA
poderia abrir teu corpo
com os meus dentes
rasgar panos e sedas
com as unhas
arreganhar as tuas fendas
desatar todos os nós
da tua cama arrancar os cobertores
rasgando as rendas dos lençóis
perpetuar a ferro e fogo
minhas marcas no teu útero
meus desejos imorais
maldizendo a hora soberana
com a força sobre humana dos mortais
quando vens me oferecer migalha e fruto
como quem dá de comer aos animais
ALUCINAÇÕES
(IN)TERPOÉTICAS
O QUE é que mora em tua boca bia? um deus. um anjo. ou muitos
dentes claros como os olhos do diabo e uma estrela como guia?
O QUE é que arde em tua boca bia? azeite sal pimenta e alho résteas de cebola um cheiro azedo de cozinha tua boca é como a minha?
O QUE é que pulsa em tua boca bia? mar de eternas ondas que
covardes não navegam, rios de águas sujas onde os peixes se apagam.
ou um fogo cada vez mais Dante como este em minha boca de
poeta delirante nesta noite cada vez
mais dia em que acendo os meus infernos em tua boca bia?
LUNÁTICA
um gato noturno
atira pedras nas estrelas
palavras e mais palavras
na carne da princesa.
onde o papel não bate
onde o pincel não toca.
o gato noturno lambe a barriga
bem perto da virilha
e trepa
no muro mais próximo
tentando alcançar o outro lado da lua
em seu instante letal
de desespero
e solidão.
FROYDIANA
azul são os teus olhos
a cor dos pelos não conheço
teus seios ainda não toquei
Dracena – é uma terra roxa
nave extra terrena
que humanos não decifraram
pequena vagina virgem
onde os dedos ainda não entraram
e os cachos de uvas
apodrecem nos teus dentes
com um cheiro de leite ardente
esguichando na distância.
pátria
a(r)mada
só me queira assim caçado
mestiço vadio latino
leão feroz cão danado
perturbando o seu destino
e só me queira encapetado
profanando aqueles hinos
malandro moleque safado
depravando os seus meninos
só me queira enfeitiçado
velos macio felino
em pelo nu depravado
em sua cama sol à pino
e só me queira desalmado
cão algoz e assassino
duplamente descarado
quando escrevo e não assino
alguma poesia
não bastaria a poesia
deste bonde
que despenca lua nos meus cílios
num trapézio de pingentes onde a lapa
carregada de pivetes nos seus arcos
ferindo a fria noite como um tapa
vai fazendo amor por entre os trilhos.
não bastaria a poesia
cristalina
se rasgando o corpo estão muitas meninas
tentando a sorte em cada porta de metrô
e nós poetas desvendando palavrinhas
vamos dançando uma vertigem
no tal circo voador.
não bastaria todo riso
pelas praças
nem o amor que os pombos tecem pelos milhos
com os pardais despedaçando nas vidraças
e as mulheres cuidando dos seus filhos.
não bastaria delirar
Copacabana
e esta coisa de sal que não me engana
a lua na carne navalhando um charme gay
e um cheiro de fêmea no ar devorador
aparentando realismo hipermoderno
num corpo de anjo
que não foi meu deus quem
fez
esse gosto de coisa do
inferno
como provar do amor no posto seis
numa cósmica e profana poesia
entre as pedras e o mar do Arpoador
mistura de feitiço e fantasia
em altas ondas de mistérios que são vossos
não bastaria toda poesia
que eu trago em minha alma
um tanto porca,
este postal com uma imagem
meio Lorca:
um bondinho aterrissando lá na Urca
e esta cidade deitando água
em meus destroços
pois se o cristo
redentor deixasse a pedra
na certa nunca mais rezaria padre-nossos
e na certa só faria poesia com os meus
ossos.
Marçal Tupã
o grito goytacá ainda ecoa
meu coração marçal tupã
sangra tupy & rock and roll
meu
sangue tupiniquim
em
corpo tupinambá
samba
jongo maculelê
maracatu boi bumbá
a veia de curumim
é coca cola e guaraná
Suor
& Cio – 1985
Indigesta
ê fome negra incessante febre voraz
gigante
ê terra de tanta cruz
onde se deu primeira missa índio rima com carniçano pasto pros urubus
oh! My Brazyl
ainda em alto mar Cabral quando te viu foi
logo gritando: terra à vista! e de bandeja te entregando pra união
democrática ruralista.
por aqui nem só beleza nesses dias de paupéria
nação de tanta riqueza país de tanta miséria
Tecidos sobre a Terra
Terra, antes
que alguém morra escrevo prevendo a morte arriscando a vida antes que seja
tarde e que a língua da minha boca não cubra mais tua ferida
entre aberto
em teus ofícios é que meu peito de poeta
sangra ao corte das navalhas e minha veia mais aberta é mais um rio que se
espalha
amada de
muitos sonhos e pouco sexo deposito a minha boca no teu cio e uma semente
fértil
nos teus seios como um rio
o que me dói
é ver-te devorada por estranhos olhos
e deter impulsos por fidelidade
ó terra
incestuosa de prazer e gestos não me prendo ao laço dos teus comandantes só me
enterro à fundo
nos teus vagabundos com um prazer de fera
e um punhal diamante
minha terra é
de senzalas tantas enterra em ti milhões de outras esperanças soterra em teus
grilhões a voz que tenta – avança
plantada em ti como canavial que a foice corta
mas cravado em ti me ponho a luta mesmo sabendo – o vão estreito em cada porta
MOENDA
usina
mói a cana
o caldo e o bagaço
usina
mói o braço
a carne o osso
usina
mói o sangue
a fruta e o caroço
tritura suga torce
dos pés até o pescoço
e do alto da casa grande
os donos do engenho controlam
:
o saldo e o lucro
o preço
atual
proíbes
que me coma
mas pra
ti estou de graça
pra ti
não tenho preço
sou eu
quem me ofereço
a ti:
músculo e osso
leva-me à
boca
e completa o teu almoço
BraziLíricaPereira
:
A Traição das Metáforas – 2000
1968
ou
: a investigação
uilcorneana
quem és tu uilcon pereira
que foste fazer na sorbonne?
ter aulas com Sartre
ou cantar a Simone?
drummundana itabirina
fedra margarida a resolvida desfilava pela última vez portando falo. Decidira decepar o pênis e desnudar de vez a sua outra mulher. braziLírica amanheceu incrédula:
manchetes, vozerios, falatórios, assembleias, faixas, cartazes. por todas as vias, multivias, multimeios, os ofendidos habitantes brazilíricos inconformados com a fedra passearam em plebiscito vociferando Não ao Sim.
E margarida flor impávida lá se foi beira-mar olhando estrelas no cruzeiro. Mas César que não é Castro continuou a pigmentar seu mastro na outra parte da tela, e um dia fedra sorrindo, com o pênis/baton da louca, foi ao boca de luar da fedra e voltou com o luar na boca.
poema 1
entre a pele e a flor no asco
com meia sola no sapato
o meu vapor mais que barato
industrial e infonáutico
entre o couro de zinco e o cabelo
mar de indecifrável plástico
por entre o bronze dos teus pelos
entre o gozar cibernético
em todo sangue magnético
a minha carne pós poeira
entre a flor e o vaso de barro
na homepage ou no carro
na camisinha de vênus
vírus H corroendo
em vita/plus ou na sala
meu olho gótico TVendo
BraziLírica lâmpada fala
por um tanto ou tanto quase
cento e dez em cada fase
não sendo assim acaba sendo
poema 2
debaixo da sacada a escada torta
pássaro sem teto acima do delírio
coração de porco crava no oco da noite
a faca cega, punhal de cinco estrelas
na constelação do cão maior
por onde Úrsula nua passeia
Dédala de Dandi Deusa de Dali lua de Dadá
no coração do pintor sem fronteiras
acima do pé de abóbora embaixo do pé de cajá
Malásia não é aqui Espanha não além mar
Salvador não é Dali
a mulher que eu quero mesmo
e uma Dedé que não Dadá
Bia de Dante do inferno Itamarati/Itamaracá
constelação ursa maior
pra Dadá meu coração pra Dedé não sou cantor
quando quero quero mesmo
espuma nylon pele tecido isopor.
poundianna
Torquato era uma poeta
que amou a Ana
Leminski profeta
Que amou Alice
um dia pós veio Uilcon torto
pegou a Jóia di Ana
e juntou na PereirAlice
com o corpo de alma das duas
foi Bouvoir Assombradado
pra lá de França ou Bahia
roendo o osso do mito
pois tudo que Sartre dizia
o Anjo jurou já ter dito
Nonada
:
- Biúte ria
poema seis
estando quase
sempre e mesmo
estando
esteja breve
assim como uma letra
escrita a lápis
numa estrela
aquarela rabiscada a giz
estando por um raio
esteja por um triz
do som dessa palavra nasce uma outra palavra fulinaimicamente no improviso do repente do som dessa palavra nasce uma outra palavra fulinaimicamente
brasileiro
sou bicho do mato brasileiro sou pele de gato brasileiro mesmo de fato yauaretê curumim
carrapato
em rio
que tem piranha jacaré sarta de banda
criolo tô
na umbanda índio fui dentro da oca
meu destino
agora traço dentro da aldeia carioca
Jackson
do Pandeiro Federico Baudelaire nas flores do mal me quer Artur Rimbaud na festa de janeiro a
fevereiro Itamar da Assumpção olha aí Zeca Baleiro no olho do mundo cão
fulinaíma
misturei
meu afro reggae a muito xote do xaxado ainda fiz maracatu maxixe frevo já juntei ao fox trote
quando
dancei bumba-meu-boi em Pernambuco
fulinaíma é
punk rock rasgando fados em bossa nova
feito blues
para pintar
a pele branca de vermelho
e repintar
a pele preta de azuis...
botei
sanfona no rufar desse baião tambor de minas capixaba no lundu no Paraná
berimbau de capoeira
dancei em
noites de lual no Maranhão
fulinaíma
é punk rock rasgando fados em bossa nova
feito blues
para pintar
a pele branca de vermelho
e repintar
a pele preta de azuis...
mas em São Paulo pedras quando rolam pelos céus de nossas bocas meu irmão fulinaíma azeita o caldo da mistura para fazer o que não jazz ainda soul
porção de
restos de alguma partitura que algum músico com vergonha recusou por ser estranho
o que naquilo descobriu mas se a gente canta no cantar essa ternura é que mamãe mamãe
mamãe Macunaíma ainda chora pelas matas do Brasil
pornofônico
confesso
se
este poema inocente primitivo natural indecente
em teu pulsar navegante entrar por tua boca entre dentes
espero que não se zangue se misturar o
meu sangue em teu pensar quando antropo
por todas bocas do corpo em total pornofonia na sangração da mulher
me diga deusa da orgia se também tu não me quer quando em ti lateja e devora palavra por palavra
por fora dentro e por fora em pornografia
sonora
me diga Lady Senhora nestes teus setenta anos
se nunca gozou pelo ânus me diga Bia de Dora
num plano lítero/estético qual humano ou cibernético que te masturba ou te deflora
vampiresco
um conto
mínimo 2
o senhor dos
anéis não mostra os dedos
muito menos
o coração Bradesco onde um corpo na lama menos Vale que 1 real rasgado na boca do bueiro
antes que seja tarde
qualquer palavra é um risco
qualquer poema eu arrisco
mesmo quando cilada
bala carro usado facada
compra venda laranja goiabeira
o lança chamas no circo
o dado lance no jogo
a mulher que come fogo
congresso de picadeiro
trapacear no senado é mágica
executivo carniceiro
poema não é brincadeira
comum baseado no ventre
farinha prisão entridentes
a farsa no país é trágica
e o povo é sempre o indigente
mar de lama
aqui tem os mais profundos
bem mais fundo
os mais imundos minerais
o mar de lama
mata a mata
não só ferro
não só ouro
não só
prata
mata muito mais
mata também
o couro cru
a carne viva
meus oriundos ancestrais
onde a poesia
se espalha
a língua nativa
não é fogo de palha
é brasa viva
pandemônica 2
como
preservar a Amazônia
como
exterminar a miséria
se as 7
patas da Besta
cavalgam pelo
planalto?
poema de 7
foices
atrás da
face anticristo
e nos
palácios os crápulas
com suas
caras de vidro
com suas
bíblias e vícios
devastam
para o pasto pro gado
queimam florestas e bichos
queimam a
fauna e a flora
matam em
nome de cristo
por algum
pastor são ungidos
nunca vi
tanto canalha
nesses pantanais
reunidos
olho dentro do teu olho
para que olhe na minha cara
e cara a cara me diga
a quantas anda a nossa briga
do nosso amor pela ética
se é tão estranha a poética
de só pensar lá na frente
que até perdi a conta
nesse pretérito faz de contas
das quantas vezes
que já votei pra presidente
e o nosso país do futuro
que nunca chega no presente
boca do inferno
musicado e gravado por Luiz Ribeiro
No CD Fulinaíma Sax Blues Poesia - 2002
por mais que te amar seja uma zorra
eu te confesso amor pagão
não tem de ter perdão pra nós
eu quero mais é o teu pudor de dama
despetalando em meus lençóis
e se tiver que me matar que seja
e se eu tiver que
te matar que morra
em cada beijo que te der amando
só vale o gozo quando for eterno
infernizando os céus
e santificando a boca do inferno
satânica
eu sou ator
poeta
cineasta
produtor cultural
vivo pintando o sete
nos porões da catedral
tenho cabeça
tronco
membro sexual
não tenho a cara da morte
trafego de sul a norte
no destino tracei minha sorte
eu sou Universal
poema das invenções
fosse essa jura secreta
brazilírica fulinaimagem
mutações em pré-juizo
muito além da mesa posta
couro cru em carne viva
lambendo suor e cio
como corrente de rio
deságua no além mar
com os meus olhos nos navios
profana sagaranagem
nos gumes da carnavalha
teu corpo em Maracangalha
fulinaimando comigo
agulha no teu umbigo
como uma faca entridentes
a língua na flor da boca
intransitiva linguagem
na carnavalha indecente
ereto poema crescente
rasgando a carne no grito
o gozo nos nervos de dentro
roendo os ossos do mito
gomes
& gumes
todo poema tem dois
gomes toda faca tem dois gumes
de um eu não digo os
nomes da outra não mostro os lumes
se um corta com
palavras a outra com corte mesmo
se um é produto da
fala a outra do ódio a esmo
todo poema tem dois
gomes toda faca tem dois gumes
e um amor cego nas
asas brilhante de vagalumes
se em um a linguagem
é sacana
na outra o corte é
estrume
todo poema tem dois
gomes toda faca tem dois gumes
se em um peixe é
palavra na outra o brilho é cardume
é fio estrela na
lavra mal cheiro vício costume
de um eu não digo os
nomes da outra não mostro os lumes
se em um a coisa é
sagrada ofício provindo das vísceras
na outra a fé é
lacrada hóstia servida nas missas
se em um é cebola
cortada aroma palavra carniça
na outra o ferro, é tempero, fé cega - fome amolada
– poema é só
desespero
por entre trilhos e trilhas
por entre tralhas e troços
foto grafando os destroços
dos frutos podres no chão
para
uma menina
com uma flor
na boca
cada palavra ou nome sendo de gente ou coisa traz em si suas nuances léxicas sendo Luana ou Jéssica sendo paixão ou fome sendo cidade ou surto ou condição estética
cada palavra ou nome traz em si sua punção poética
dentro da arte ou fora na pele que tens agora no olho nas pernas nas coxas estando ainda mais dentro umbigo intestino útero mar de desejos tantos que a boca sorrindo implora
ou mesmo calado o pranto
atormente teu corpo e chora
cada palavra ou nome é signo verbo cilada se queres silêncio não grito se queres mistério não mito na carne no sangue no osso está a palavra a(r) mada quando queres flor
não espada.
a hora cósmica du boi
Aqui,
nada de
qualquer semelhança
e mera
coincidência.
tudo é o que
sempre existiu real, místico
satírico, é
a pimenta social
na carne de
boi de cada um de vós.
Aqui, nada
de mistérios e metáforas
verdades e
mentiras por detrás dos panos.
o boi vale
sempre quanto pesa.
Aqui, só tem
validade o que cheira a gado,
o que pode
ser medido pesado
como
percepção para a realidade do mercado.
Basta sacar
os fatos.
O momento histórico
golpeado foi
Se não
perceberam a direção dos seus caminhos atentem pois para a hora cósmica do boi
cacomanga
2
ali nasci
minha infância
era só canaviais
ali mesmo aprendi
conhecer os donos de
fazenda
e odiar os generais.
no poema
o que ficou?
para Cesar Augusto de
Carvalho
no poema ficou caco de vidros azulejando nos azuis no poema
ficou o corte mais aberto o sangue mais secreto tanto mal secando blues
no poema ficou a língua cega a faca desdentada a fome afiada
onde era mel agora é pus
no poema ficou o obsceno não sagrado o beijo ensanguentado o
abstrato do concreto no poema ficou um objeto um soneto esfacelado um hiato no
decreto
no poema ficou mais um retalho mais um trapo do espantalho nesse
circo abjeto no poema ficou o sangue amargo numa noite quase nada num curral
analfabeto
no poema ficou a escuridão nuvens de cinzas onde antes era luz
no poema eu fiquei de pé quebrado no velório esquartejado nessa terra tanta
cruz.
pátria que pariu
para Rubens Jardim
os dentes das pedras mordem a língua dos meus dias obscuros esse
país teve passado não tem presente nem tem futuro
peixe é bicho inteligente foge do óleo criminoso derramado nos
mares do nordeste - eita peixe cabra da peste!
nem sei em que planeta estamos
hoje nessa infernal atmosfera capitão boçal pede desculpas pelas cagadas
dos 3 filhos
Aí 5 é apenas os centímetros que um deles carrega
pendurado entre as pernas esperma já virou porra
nesta pátria que pariu a besta fera
transPiração
amor é não é uma palavra lógica
e não há estética que o decifre
defina ou me explique e
que seja como neve vento água fogo
se é amor: te amo e me
afogo
me deleito no teu colo
me dê leite - desses
anjos serafim
e quanto mais
transpiro me deliro
no desejo
que não vai ter fim
atentado poético
mesmo se eu estivesse nua você nunca saberia quem eu sou
muitas vezes diante do espelho essa
coisa trans/vestida com a espada de Ogum Beira Mar eu tenho o sal entranhado em
minhas coxas e o veneno na língua como um poema/pomba gira que não é da paz um artefato anti/bélico que
pode explodir neste instante em que ela pode muito bem e quer enquanto você me
V(l)ER.
Federika Lispector
*
essa
paz não me interessa
as letras dançam na retina
vertigem delírio alucinações
íris dandara a carne de segunda
nesta manhã/domingo
descasco ovas de guaiamuns encarceradas
onde a barra fede
marés e rios de promessas
argamassas no abstrato
que não se concreta
mesmo fosse essa jura em linha reta
meu coração não é balcão de negócios
nem recipiente para pílulas de auto/ajuda
meu coração vadio
leviano
um tanto quase
enganador
anda sempre no cio até sangrar
o amor da caça
quando se teima em caçador
A mulher dos sonhos
ela ainda guarda na boca este poema entre os dentes
a língua saliva sílaba por sílaba as palavras que invento ela fala em meus
versos ao sabor do vento enquanto freud não explica o que ainda não fizemos ela
mastiga meus biscoitos finos e vê nos búzios minhas mãos de fogo quando tem no
livro este incenso aceso as entre minhas nas entre linhas dela e salta das
metáforas por entre portas e janelas
a barra
o rio é uma passagem
para encarar a barra
de frente
a rede pode prender o peixe
mas não me prende
os dentes
a mulher dos sonhos
pesadelo ou Freud explica?
ontem sonhei com a mulher dos
sonhos não era minha mas procurei saber quem era encontrei o endereço e ela não
estava. a governanta me falou que estava em búzios. não a vi mas ouvi uma voz e
me dizia: - todo escrito deve ser falado todo livro deve ser bem lido e quem
fala deve ser bem escutado - o telefone toca não atendo nem sei quem está do
outro lado - deu pra ver dois olhos de búzios na areia ainda molhada pela
espuma das ondas e o vai e vem me deu um susto.
era ela toda de branco lenço azul nos cabelos 3 contas de vidros nas mãos
quando percebi quem era acordei.
Rúbia Querubim
a
passageira da poltrona ao lado
observa a paisagem atentamente na janela
meus olhos focam o seu perfil na tela
meu dedo aciona o dispositivo do zoom
para ter a sua imagem mais de perto
o coração entende a sensação do seu olhar flertando a câmera o sentido está aberto na viagem onde a surpresa não tem planos e a arte é puro acaso do que possa acontecer na engenharia dos músculos que se movem inconscientes onde poema quase houver
na
miragem oculta numa manhã de sexta
depois de noite inteira de cerveja para perder o
sono sem saber que na poltrona ao lado na luz desta miragem iria amanhecer
afrodite se quiser
Zeus me fez fulinaímica
neta de Macunaíma
bisneta de Baudelaire
Gigi
Mocidade
grafitemas e figuralidades
estou escrevendo um mini conto um
grafitema com figuralidades não é coisa de cinema a mais nua e crua realidade
certa noite ela me veio não era sonho era uma noite de chuva com seus dois
grandes olhos e mãos tão pequenas como quem grafita na areia um espelho d´água
à beira mar na lua cheia vinha vestida de letras como o som da flauta de bambu
dentro do fonema veio de longe da outra margem do rio dentro da tapera o cauim
me trouxe na tigela bebi como índio na hora que vê nascer o filho beijei teus
cabelos de milho e ela me perguntou o que era
mini conto - a faca
poesia não é manchete de jornal para espremer escorrer sangue
mas e o poema não pode ser facada que entra na carne mas não sangra como aquela
em Juiz de Fora que até agora ninguém me explicou o melodrama estava li e não
vi Adélio no curral do tal comício palanque armado para levar o brazyl a uma
quaderna - pra fazer do país um
precipício
catando cacos de cogumelos azuis
procurava apagar os rabiscos de giz nos azulejos enquanto ouvia edvaldo santana adonirando um blues vivi-ane preparava um chá de cogumelos azuis para depois do almoço que havíamos encontrado nas trilhas para são tomé das letras em outras histórias de minas fragmentadas com pimenta azeite e alho num caldeirão mágico incandescente a voz ultrapassava os corredores e entrava na cozinha como uma ladainha em cortejo de fulia de reis com aqueles palhaços com máscaras de bode no rosto imaginava a procissão em romaria era tudo real o chá ainda estava sendo preparado mas os efeitos já surgiam como se o líquido já tivesse sido ingerido ouvi uma das vozes da procissão me pedindo um gole depois de tomá-lo ela toda de azul vermelho dançou com muito mais volúpia e em um passo de mágica todos os outros elementos da fulia começaram um ritual fulinaímico se lançando para o alto como se fossem fogos de artifícios ninguém provou do chá mas quando a dança terminou não havia mais um gole dentro do caldeirão vivi-ane quase teve um troço ao ver o utensílio vazio.
bandeira
nacional
com palavras sons imagens versos inauguro o monumento no pandemônico da central
araçá azul domingo no parque vapor barato mal secreto pérola
negra construção cabeça poema concreto
arte poesia teatro cinema
pós poema terra em transe
tropicália grande sertão veredas vidas secas memórias do
cárcere
parangolés hélio oiticica artur bispo do rosário
bacurau seja herói seja marginal
biPoética
sou comunista
profano umbandista
meu amor
sou o aço da espada de Ogum
a faca de ferro de Exu
água doce de Oxum
espuma de sal de Yemanjá
raios tempestades de Yansã
a flecha de Oxossi caçador
meus deuses são
gregos africanos
são irônicos são humanos
sim senhor
meu corpo é do batuque
nos terreiros da justiça
minha pedra meu bodoque
dou o toque
minha pedra é de
Xangô
cabaré brazilírico
nesse país
das merdavilhas
podres poderes são formados
pelos canalhas das quadrilhas
a quadrilha oficial
tem tentáculos espalhados
por todo território nacional
o circo está na lona
quero ver quem vai ser
o palhaço dessa zona
15 de novembro estou na praça
porque vai ter marmelada
no cabaré da pátria a(r)mada
cacos de cogumelos azuis
alguns nomes nesta cidade me provocam desconcertam meus
neurônios carrapato imburi macuco muritiba uriticum lagoa dos paus sossego a vida aqui vive enrolada em seus
novelos São Francisco é tão pacata mais pacata que Arcozelo quando acordada não
anda quando dorme é pesadelo
enigma número 2
arde em minha mãos teus poros
minhas unhas ainda queimam
dentro o sal das tuas águas
outubro era quase um mar folhas
no coliseu dos emigrantes italianos
e o vinho temperava nossas línguas
ao
degustar a santa ceia
Clarice trigo do pão em minha boca
fermento de Zeus em nossa carne
no vale do Olimpo onde gozamos
os fachos de fogo em nossas veias
em tudo do amor que experimentamos
quando na mesa nos fartamos santa ceia
cato caco nos azuis
cato
cacos de vidros nos azuis lâminas de fogo nesse olho d'água algas de pedras nesse tempo ostras antes das
horas que o dia tarda e os tiranos cessem seu torpor maligno
cato caco de vidros nessa areia
carma e provo o sal o sangue o sexo a
saliva o cio dessas horas tontas são tantas horas perdidas outras
desencontradas na areia da praia no rabo
da arraia na ponta da lua branca nas espumas nos espermas que não fizeram
filhos nas pernas nas coxas no litoral dos ânus
essas horas que já se perderam nos currais do pasto de algum gentio pássaros elétricos que se ejacularam queimando as penas nas tensões dos fios nos geradores desse Zeus me livre onde netuno não aporta mais os seus navios
com as unhas
entranhadas
em tuas veias
escrevo como
quem
cata estrelas do mar na areia da praia
como quem come o rabo da arraia
montado
no cavalo marinho
lambendo escamas de sereia
com os dentes cravados na memória
e as unhas entranhadas em tuas veias
na espuma
branca de um pergaminho
psic/analítica
não durmo. sonho. Dédala
passeia em minha cama sob os meus lençóis de lã toda palavra sã me despe
desejo pelos poros pelos nossos corpos separados apenas pela penugem do tecido quase dentro como Joice me trazendo Dédalus para o travesseiro eu te desejo como tudo que seja
carne nervos músculos ossos
ela foge quando toco fogo paixão
fome sede tesão sexo acho até complexo ela gostar de conversar mas não sentir ou não querer ficar olhando da janela do seu olho gótico como quem analisa feito dadaísta nem fiado nem a vista
porque não pode se envolver
vertigem 12
o
barro do valão
que meus pés pisaram
impregnou o sangue
transpirou nos poros
o
limo embaixo das unhas
lembra-me o lugar de onde vim
cacomanga me re-inventei Diadorim
não
tracei a linha reta
já nasci um anjo torto
nada
em mim se concreta
no
meu sonho - desconforto
tudo
em mim é impossível
até mesmo imprevisível
muito mais que inalcansável
não
gosto de automóvel
muito menos televisão
cresci
por dentro do mato
conheci olho de cobra
pulo felino de gato
dentes afiados de cão
concretude
versus conkrEreções
Delírica
da janela vou olhando o
trilho de ferro
do vagão barato o brasil do globo fica
lá distante em brazilírica
lá no meio do
mato. a carne
bela não viaja aqui
nem mora por perto da estação da luz
aqui tem merda carne de terceira lixo
de primeira pele podre pus
nunkrEreção
nada nasceria naquela nação
naturalmente
naquela noite natimorta
nadavera naverouca
nenhuma nave nenhuma louca nenhuma nara
não nasceria naquele norte
nortistatamente
nem novidade naquele nojo
nenhuma pouca
naquela nuvem naquele nível naquele nada
nunkrEreção
nunkrerefalo nunkrerequero
nordestamente nada nasceria naquele clero
nem mesmo apolo numdionísio nem mesmonero
nenhuma ninfa nunkrerenunca naquele narda
nenhuma nívea nenhuma névoa nenhuma násia
nunca seria nascer de novo nem pedro nava
naquele númem naquele nome naquela amásia
nem nulidade nunkreretanto nenhuma náusea
não nasceria
naquela nação naturalmente
nenhum nativo naquela noite do homem farda
nenhum negroide - negróide nunca negroide nada
faca
uilcônica mortal
estanco o cavalo do sonho
no teu quartel do princípio
papel cortado na resma
a mula pasta acordada
a besta pulsa assombradada
no visgo quente da lesma
trincheira
há uma gota de sangue
entre meus olhos
e
os teus
e muitas velas acesas
pra salvar a nossa carne
e bocas cheias de dentes
mastigando a nossa morte
mas eles é que morrerão
meu amor : num grande susto
quando nus virem
amando nessa cama
de ferro e de pau duro
poesia para desconcertos
Dédalus
para Alberto Bresciani
e o seu magnífico Hidroavião
O poeta
pesca peixes
na floresta de concreto
lâminas de cimento
há séculos
não está pra peixe
este mar
aqui redes em pânico
pescam esqueletos no ar
linhas de naylon
degolam tartarugas
que morrem náufragas
na Av. atlântica
o poeta cata os cacos
que restaram desta pátria desossada
dentro da noite veloz
... e se fosse não apenas o que eu quisesse ela também fosse o
silêncio da fala a espera de uma outra
palavra que ainda não dissemos nos vazios de nossas bocas quando a língua se
esconde antes da cena acontecer. e se fôssemos
como dois perdidos numa noite suja
procurando a lamparina para dar a luz dentro dessa noite veloz até que exploda uma
vertigem no dia ?
poética
essa espessa nuvem de fumaça arregaça meus intestinos me provoca esse estado de não sei quantas
adrenalinas essa besta no cio esse desatino e o destino do
menino esse veneno em cada grão de soja
em cada grão de milho em cada folha de alface
essa face carcomida antes dos trinta e eu aqui pensando a quantas anda os projetos
do meu filho
incorporação
para Igor Fagundes
esse poema bárbaro
com fonema brazilírico
vai fazer meu aramaico
incorporar o seu delírico
palavras que incorporo
dança vento movimento
folhas verdes no algodão
fulinaíma dançarino
sertão moleque esse menino
do frevo xaxado xote blues rasgado baião
mallarmargens
esse poema desliza pelo lado esquerdo do Rio entre Mallarmè e às Margens por de traz da Lapa no cio e o carioca em meu desvario aposta um lance de dados que o prefeito o mal l a(r)mado abandona sua carreira foge do povo em mal estado em plena segunda-feira Cristo desce o corcovado em lance descomunal e na Sapucaí a Mangueira explode no carnaval
Juras secretas
a língua escava entre os
dentes
a palavra
nova
fulinaimânica/sagarínica
algumas
vezes muito prosa
outras
vezes muito cínica
tudo o que
quero conhecer:
a pele do
teu nome
a segunda
pele o sobrenome
no que
posso no que quero
a pele em
flor a flor da pele
a palavra
dandi em corpo nua
a língua em
fogo a língua crua
a língua
nova a língua lua
fulinaímica/sagaranagem
palavra
texto palavra imagem
quando no
céu da tua boca
a língua
viva se transmuta na viagem
o tecido do amor já esgarçamos
em quantos
outubros nos gozamos
agora que
palavro Itaocaras
e persigo
outras ilhas
na carne
crua do teu corpo
amanheço
alfabeto grafitemas
quantas
marés endoidecemos
e aramaico
permaneço doido e lírico
em tudo
mais que me negasse
flor de
lótus flor de cactos flor de lírios
ou mesmo
sexo sendo flor ou faca fosse
Hilda Hilst
quando então se me amasse
ardendo em
nós salgado mar e Olga risse
pulsando em
nós flechas de fogo se existisse
por onde
quer que eu te cantasse ou Amavisse
pele grafia
meus
lábios em teus ouvidos
flechas
netuno cupido
a faca na
língua a língua na faca
a febre em
patas de vaca
as unhas
sujas de Lorca
cebola pré
sal com pimenta
na tua
língua com coentro
qualquer
paixão re-invento
o corpo
mar quando agita
na preamar
arrebenta
espuma
esperma semeia
sementes
letra por letra
na bruma
branca da areia
sem pensar
qualquer sentido
grafito em
teu corpo despido
poemas na lua cheia
fosse esta menina Monalisa
ou se não
fosse apenas brisa
diante da
menina dos meus olhos
com esse
mar azul nos olhos teus
não sei se
MichelÂngelo
Da Vinci
Dalí ou Portinari
te
anteviram
no instante
maior da criação
pintura de um arquiteto grego
quem sabe
até filha de Zeus
e eu
Narciso amante dos espelhos
procuro um
espelho em minha face
para ver se
os teus olhos
Jura secreta 18
te beijo vestida de nua
somente a lua te espelha
nesta lagoa vermelha
porto alegre caís do porto
barcos navios no teu corpo
os peixes brincam no teu cio
nus teus seios minhas mãos
as rendas finas que vestias
sobre os teus pelos ficção
todos os laços dos tecidos
aquela cor do teu vestido
a pura pele agora é roupa
o sabor da tua língua
o batom da tua boca
tudo antes só promessa
agora hóstia entre os meus dentes
e para espanto dos decentes
te levo ao ato consagrado
se te despir for só pecado
rio em pele
feminina
o rio com seus mistérios
molha meu cio em silêncio
desejo o que nos separa
a boca em quantos minutos
as flores soltas na fala
o pó dos ossos dos anos
você me diz não ter pressa
seus olhos fogo na sala
o beijo um lance de dados
cuidado cuidado cuidado
que sou um anjo de fadas
não beije assim meus segredos
meus olhos faróis nos riachos
meus braços dois afluentes
pedaços do corpo do rio
meus seios ilhas caladas
das chamas não conhece o pavio
se você me traz para o cio
assim que o sexo aflora
esta palavra apavora
o beijo dado mais cedo
quebra meu ser no espelho
meu cerne é carne de vidro
na profissão dos enredos
quanto mais água me sinto
presa ao lençol dos seus dedos
o rio retrata meu centro
na solidão de mim mesma
segundo a segundo nas águas
lá onde o sol é vazante
lá onde a lua é enchente
lá onde o rio é estrada
onde coloca seus versos
me encontro peixe e mais nada
Jura secreta 29
esfinge
o amor
não é
apenas um nome
que anda
por sobre a pele
um dia falo
letra por letra
no outro
calo fome por fome
é que a
pele do teu nome
consome a
flor da minha pele
cravado
espinho na chaga
como marca
cicatriz
eu sou ator
ela esfinge:
Clarice/Beatriz:
assim
vivemos cantando
fingindo
que somos decentes
para
esconder o sagrado
em nossos
profanos segredos
se um dia
falta coragem
a noite
sobra do medo
é que na
sombra da tatuagem
sinal enfim
permanente
ficou
pregando uma peça
em nosso
passado presente
o nome tem seus mistérios que
se escondem
sob panos
o sol é
claro quando não chove
o sal é bom
quando de leve
para adoçar
desenganos
na língua
na boca na neve
o mar que
vai e vem não tem volta
o amor é a
coisa mais torta
que mora lá
dentro de mim
teu céu da
boca é a porta
onde o
poema não tem fim
Jura Secreta 37
baby cadelinha
devemos não
ter pressa
a lâmina
acesa sob o esterco de Vênus
onde me
perco mais me encontro menos
de tudo o
que não sei
só fere
mais quem menos sabe
sabre de
mim baioneta estética
cortando os
versos do teu descalabro
visto uma
vaca triste como a tua cara
estrela cão
gatilho morro:
a poesia é
o salto de um vara
disse-me
uma vez só quem não me disse
ferve o
olho do tigre enquanto plasma
letal a
veia no líquido do além
cavalo
máquina meu coração quando engatilho
devemos não
ter pressa
a lâmina
acesa sob os demônios de Eros
onde minto
mais porque não veros
fisto uma
festa mais que tua vera
cadela pão
meu filho forro:
a poesia é
o auto de uma fera
devemos não ter
pressa
a lâmina
acesa sob os panos quem incesta ?
perfume o
odor final do melodrama
sobras de mim papel e
resma
impressão
letal dos meus dedos imprensados
misto uma
merda amais que tua garra
panela
estrada grão socorro:
a poesia é
o fausto de uma farra
Jura Secreta 40
Aqui, redes
em pânico pescam esqueletos no mar -esquadras - descobrimento
espinhas de
peixe convento - cabrálias esperas relento - escamas secas no prato
e um cheiro
podre no
AR
caranguejos
explodem mangues em pólvora
Ovo de
Colombo quebrado areia branca inferno livre Rimbaud - África
virgem carne na cruz dos escombros trapos balançam
varais telhados bóiam nas ondas tijolos afundando
náufragos último suspiro da bomba na boca incerta da barra
esgoto
fétido do mundo - grafando lentes na marra imagens daqui saqueadas
Jerusalém
pagã visitada -Atafona.Pontal.Grussaí - as crianças são testemunhas:
Jesus
Cristo não passou por aqui
Miles Davis
fisgou na agulha Oscar no foco de palha cobra de vidro sangue na
fagulha carne de peixe maracangalha que mar eu bebo
na telha que a minha língua não tralha? penúltima dose de
pólvora
palmeira
subindo a maralha punhal trincheira na
trilha cortando o pano a navalha
- fatal
daqui Pernambuco Atafona.Pontal. Grussaí -
as crianças
são testemunhas : Mallarmé passou por aqui.
bebo teu fato em fogo punhal na ova do bar
palhoças ao
sol fevereiro aluga-se teu brejo no mar
o preço nem
Deus nem sabre sementes de bagre no porto a porca no sujo
quintal plástico de lixo nos mangues
que mar eu bebo afinal?
Goytacá Boy musicado e cantado por Naiman
no CD fulinaíma sax blues poesia
ando
por São Paulo meio Araraquara
a pele
índia do meu corpo
concha de
sangue em tua veia
sangrada ao
sol na carne clara
juntei meu
goytacá teu guarani
tupy or not
tupy
não foi a
língua que ouvi
em tua boca
caiçara
para falar
para lamber para lembrar
da sua
língua arco íris litoral
como colar
de uiara
é que eu
choro como a chuva curuminha
mineral da
mais profunda
lágrima que
mãe chorara
para roçar
para provar para tocar
na sua pele
urucum de carne e osso
a minha
língua tara
sonha comer
do teu almoço
e ainda
como um doido curuminha
a lamber o
chão que restou da Guanabara
Jura Secreta 43
veraCidade
por quê
trancar as portas tentar proibir as entradas se já habito os
teus cinco sentidos e as janelas estão escancaradas ?
um beija
flor risca no espaço algumas letras de um alfabeto grego signo de
comunicação indecifrável eu tenho fome de terra e esse asfalto
sob a sola dos meus pés agulha nos meus dedos
quando piso
na Augusta o poema dá um tapa na cara da Paulista flutuar na zona
do perigo entre o real e o imaginário João Guimarães Rosa Caio Prado Martins Fontes um bacanal de
ruas tortas
eu não sou
flor que se cheire nem mofo de língua morta o correto deixei
na Cacomanga matagal onde nasci com os seus dentes de concreto
São Paulo é
quem me devora e selvagem devolvo a dentada
na carne da
rua Aurora
Jura
Secreta 53
sagaraNAgens fulinaímicas
guima
meu
mestre
guima
em mil
perdões eu vos peço
por esta
obra encarnada
na carne
cabra da peste
da Hygia
Ferreira bem casta
aqui nas
bandas do leste
a fome de
carne é madrasta
ave palavra
profana
cabala que
vos fazia
veredas em
mais Sagaranas
a Morte em
Vidas/Severinas
tal qual
antropofagia
teu grande
Sertão vou cumer
nem João
Cabral Severino
nem
Virgulino de matraca
nem meu
padrinho de pia
me ensinou
usar faca
ou da
palavra o fazer
a
ferramenta que afino
roubei do
mestre Drummundo
que o diabo
GiraMundo
é o Narciso
do meu Ser
Jura secreta 57
meta
metáfora no poema meta
como
alcançá-la plena
no impulso
onde universo pulsa
no poema
onde estico prumo
onde o
nervo da palavra cresce
onde a
linha que separa a pele
é o tecido
que o teu corpo veste
como
alcançá-la pluma
nessa teia
que aranha tece
entre um
beijo outro no mamilo
onde aquilo
que a pele em prumo
rompe a
linha do sentido e cresce
onde o
nervo da palavra sobe
o tecido do
teu corpo desce
onde a teia
que o alcançar descobre
no sentido
que o poema é prece
O poeta enquanto coisa
obscuro objeto do desejo
de pedra dourada ficaram portas janelas
de entradas e saídas a sedução de dois olhos em
minha carne proibida nem tanto pelo o que
falo nem tanto pelo que sinto a vodka a cereja o conhac o abismo o
labirinto
de pedra dourada ficou um café orgânico no teu sertão encantada numa manhã de domingo do outro lado da trilha com tanta veracidade que me esqueci da idade e me apaixonei por tua filha
de pedra dourada ficaram olhos
acesos do outro lado a janela o espelho as contas de vidro o jogo da sedução a
maravilha os passeios nas cachoeiras
os banhos de bar o carnaval aquela delícia louca o batom na minha língua o
cheiro das flores do mal
meu bem-me-quer na tua boca
tragédia infame
empresto minha voz aos deserdados
os desnutridos os que não tem pela manhã café com pão e sobre a mesa no almoço nem
mesmo a mesa e essa pergunta pra resposta que não vinha nem bolinho de chuva nem broa de milho nem
carne seca com farinha
espinha de peixe na garganta é o
que sobrou pra curuminha - empresto meu corpo minha voz a esses personagens os que tem sede os que tem
fome ou que morrem assassinados nos guetos nos campos nas cidades por balas de canhão
rajadas de fuzil
estás fudido brasil entregue as traças então me resta exterminar
o nome o sobrenome o apelido do causador dessa desgraça
Federico
Baudelaire
Mestre Sala da Mocidade
Independente de Padre Olivácio - A
Escola de Samba Oculta no InConsciente Coletivo – Bispo da Igreja Universal do
Reino de Zeus. Colunista do portal viu www.portalviu.com.br
ancestral
há muito tempo não recebo
cartas de ninguém
mas não rezo padre nossos
simplesmente para dizer amém
já fui católico rezei terços ladainhas
acompanhei a procissão dos afogados
na Tapera
para soletrar a palavra Cacomanga
e entender que o barro da cerâmica
trago grudado na minha íris retina
meu batismo de fogo
foi numa
Santa Cecília
entre víboras e serpentes
mordi a hóstia do padre
sua saia preta me levou ao pânico
de sonhar com juízes
e hoje saber o que são
minha África
são os olhos negros
de Madame Satã
na língua tenho uma sede felina
na carne essa fome pagã
sou um homem comum
filho de Ogum com Iansã
língua
minha língua é safada nua e crua não gasta palavra a toa não
canta palavra gasta nem é fado de Lisboa
é blues rasgado pedra de toque samba rock plug ligado no navio
ou na canoa bebe do Rio e de Sampa nos demônios da garoa
fio desencapado tensão eletricidade tesão canibalidade na
voracidade da Pessoa
mamãe coragem
numa canção do lenine o peixe está na rede o mar está com sede o rio agora chora onde esta cidade pedra veracidade
medra eu te esfinjo drama
onde a ferocidade fedra eu te desejo deda eu te devoro dama
pensando a trama Torquato eu disse mamãe coragem
a vida é sagaranagem na elegia da hora fulinaíma
é viagem te levo na minha bagagem não chora mamãe não chora
o homem com a flor na boca
sorocaba blues
o cheiro de terra fendida
ainda está sob os sapatos
a carne assada ao sol
na poeira das estradas
sobre o prato
o gosto que ficou na
boca
o pudor dos seus guardados
o orgasmo que não veio
depois do primeiro susto
virginia então em a mim
mastiga da minha carne
e deixa as sobras pros meus beijos
musicada e
gravada por Reubes Pess no CD AlmaFAZArte Rock And Blues
lugar de não sei onde
ancorei os meus cavalos
na boca da areia
as tripas retorcidas no galope
no areal a sinfonia
do ontem
um horizonte cinza
de um futuro que não chega
peixes flutuando
depois da asfixia
levo meus assombros
para um lugar de não sei onde
no país da pandemônia
arte aqui faca amolada
navalha na língua
lâmina afiada entre dentes
se o cão lítico
é facista negacionista
vírus verme trapaceiro
sou filho mestre do jongo
aprendiz feiticeiro
minha mãe índia na luta
afro-dite mitológica
goytacá canibalesca
antropófoga vidente
me ensinou nobre feitiço
pra matar verme curisco
com o veneno da serpente
fome
come osso menina
come osso menino
não há mais metafísica no mundo
do que comer osso
no açougue ou no mercado
osso de graça já foi dado
hoje é vendido hoje é comprado
come osso maria
come osso mané
come osso joão
com arroz e feijão quebrado
porque nesse país sem nome
temos que comer osso
para matar a nossa fome
já podeis
da pátria, filho
ver demente
a mãe gentil
já raiou
a liberdade
em cada cano de fuzil
salve lindo
fuzil que balança
entre as pernas
a(r)madas da paz
a gripezinha
era a certeza esperança
de um genocida
imbecil incapaz
texto para orelha
Artur Gomes é poeta do corpo e da alma. Do corpo, pois as sensibilidades da pele estão devidamente traduzidas na extensão da sua obra. Também da alma, pois extrai das invisibilidades a força de um viver que resiste e insiste nas guerrilhas poéticas do cotidiano. Uma voz que ecoa Brasil afora, seja dizendo seus versos, lançando seus livros ou fazendo da poesia um espetáculo audiovisual.
Escreve e recita com grande expressividade. Produz
e arrasta para a ribalta a poesia necessária. Versos que berram diante do
espelho os silêncios que traduzem sua vitalidade poética. Artur publicou livros
e se destaca por extrair da palavra escrita a oralidade necessária. Assim, se
apresenta agora com mais uma obra para dizer que só o que transborda
naturalmente, permanece e se reproduz.
Lau Siqueira
Artur
Gomes
Fulinaima MultiProjetos
(22)99815-1268 – whatsapp
@fulinaima @artur.gumes
A Biografia De Um Poeta Absurdo
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