sábado, 11 de fevereiro de 2023

torquato vinícius



há muito tempo que este país não tá pra peixe

naquela tarde era fim de ano. cantávamos Caetano em Teresina a cajuína era pouca. raspamos o tacho e não era mole a rapa dura. Olga me abriu o Magma um Mar de larvas de fogo. em cada palavra/poema de sete letras. em cada poema sete cabeças no jogo. levamos flores ao túmulo do poeta da tropicália. Medeiros não se conteve chorou a dor dos aflitos. e para aliviar o seu pranto berrou o poema:

 

 COGITO

eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível

eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora

eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim

eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranqüilamente
todas as horas do fim.

Torquato Neto

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