Poeta Artur Gomes é eleito para cadeira 12 da Academia Campista de Letras
O último ocupante dessa cadeira foi o professor e ex-presidente da ACL Hélio de Freitas Coelho
*
Os membros da Academia Campista de Letras (ACL) elegeram Artur Gomes, poeta, ator e produtor cultural, para ocupar a cadeira n. 12 da instituição, na noite de quinta-feira (3).
O último ocupante dessa cadeira foi o professor e ex-presidente da ACL Hélio de Freitas Coelho, tendo como patrono Heitor de Araújo Silva.
Candidataram-se como postulantes à vaga os escritores Diego Nunes Abreu, Ivan Vilela Júnior, Pedro Henrique Rodrigues Ribeiro, Thais de Souza Silva, Wedson Felipe Cabral Pacheco e Wesley Barbosa Machado.
As candidaturas, previamente analisadas pela comissão eleitoral (formada pelo presidente Ronaldo Junior, pelo segundo vice-presidente Carlos Augusto Alencar e pela Secretária Titular Sylvia Paes), foram deferidas e assim votadas: Artur Gomes obteve 15 votos, enquanto Pedro Henrique Ribeiro obteve 1 voto. Os demais não receberam votos.
A cerimônia de posse está marcada para ocorrer no sábado, dia 19 de outubro, às 16h, na sede da ACL, localizada no Jardim São Benedito.
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Artur Gomes – Fulinaimagens
https://fulinaimagens.blogspot.com
Artur Gomes
Pátria A(r) mada
Artur Gomes
Pátria A(r)mada
Prêmio Oswald de Andrade
UBE-Rio – 2022
2ª
Edição Revisada e Ampliada
Fulinaíma
Campos dos Goytacazes, 2022
*
fome é tema de ensaio fotográfico com ossos à venda em
bandejas
come osso menina
come osso menino
não há mais metafísica no mundo
do que comer osso
no açougue ou no mercado
osso de graça já foi
dado
hoje é vendido hoje é
comprado come osso maria
come osso mané
come osso joão
com arroz e feijão quebrado
porque nesse país sem nome
temos que comer osso
para matar a nossa fome
já podeis da pátria, filho ver demente a mãe gentil já raiou a liberdade em cada cano de fuzil salve lindo fuzil que balança entre as pernas a(r)madas da paz a gripezinha era a certeza esperança de um genocida imbecil incapaz
*
A
vida sempre em suspense
alegria prova dos nove
fanatismo nã0 me
convence muito menos me comove
navegar é preciso
para Fernando Aguiar
Aqui redes em pânico
pescam esqueletos no mar
esquadras descobrimento
espinhas de peixe convento
cabrálias esperas relento
escamas secas no prato
e um cheiro podre no AR
caranguejos explodem
mangues em pólvora
é surreal a nossa realidade
tubarões famintos devoram cadáveres
em nossa sala de jantar
como levar o barco e
m meio a essa tempestade?
navegar é preciso
mas está dificilíssimo navegar
*
Deus não joga dados
mas a gente lança
sem nem mesmo
saber se alcança
o número que se quer
mas como me disse mallarmè
: -
vida não é lance de dedos
A vida é lança de dardos
Deus não arde no fogo
mas eu ardo
poema a(r)mado
todo os dias
capino a esperança
escavando outras palavras
no chão desse quintal
e quando escrevo
com enxada
o poema é mais real
cacomanga
na roça desde cedo comecei a escavar palavras e separar uma das outras de acordo com o seu significado dar farelo de milho para os porcos e olhadura de cana para o gado aprendi que no terreiro não dependo de mercado e para que urbanidade se a cidade não tem paz com a enxada capinei a liberdade e descobri que ditadura é uma palavra que não cabe nunca mais
*
quando escrevo e eu mesmo não entendo o significado de uma determinada metáfora lanço a maldita no vento invento outra e vou ao centro do universo e xingo teu nome: garrutio lamparão de bico kabrunco de poema que não me dá sossego
Federika Lispector
testamento
a tesoura rasga o tecido da carne enquanto sangra no processo cirúrgico do poema corta de cada palavra a sílaba que não presta de cada frase a palavra de cada sílaba a letra morfa e o poeta vai vivendo no que resta
fulinaíma sax blues poesia
ela era Bruna em noite de blues rasgado soltou a
voz feito Joplin num canto desesperado por ser primeiro de abril aquele dia
marcado a voz rasgou a garganta da santa loucura santa com tanta força no canto
que até hoje me lembro daquela musa na sala com tua boca do inferno beijando
meus dentes na fala
*
no universo paralelo
tenho
mestrado Bíblico
em chá de cogumelo
Federico Baudelaire
pássaros elétricos
vivem a vida por um fio
Federika Bezerra
Dê livros
Dê Lírios
Dê Beijos
Gigi Mocidade
pan(demônica)
passeio os pés
descalços
sobre covas rasas
contando ossos
no poema exposto
no sujeito
do objeto
tudo isso exposto
nesse papo
reto
segue o
passo norte
não leio cartas de suicídio
nem decreto de hospício
na tentação
que me conforte
quero matar
o genocídio
pra não
morrer antes da morte
metáfora
meta dentro meta fora
que a meta desse trem agora
é seta nesse tempo duro
meta palavra reta
para abrir qualquer trincheira
na carne seca do futuro
meta dentro dessa meta
a chama da lamparina
com facho de fogo na retina
pra clarear o fosso escuro
Couro Cru
& Carne Viva
terra de
santa cruz
I
ao batizarem-te
deram-te o nome
:
posto que a tua profissão
é abrir-te em camas
dar-te em ferro
ouro prata
rios peixes
minas mata
deixar que os abutres
devorem-te na carne
o derradeiro verme
I I
salgado mar de fezes
batendo nas muralhas
do meu sangue confidente
quem botou o branco
na bandeira de alfenas
só pode ser canalha
na certa s e esqueceu
das orações dos penitentes
e da corda que estraçalha
com os culhões de Tiradentes
III
salve lindo
pendão que balança
entr e as pernas
abertas da paz
tua nobre sifilítica herança
dos rendez -vous
de impérios atrás
I V
meu coração
é tão hipócrita
que não janta
e mais imbecil
que ainda canta
:
ou viram no Ipiranga
às margens plácidas
uma bandeira arriada
num país que não levanta
V
só desfraldando
a bandeira tropicalha
é que a gente avacalha
com as chaves dos
mistérios
dessa terra tão servil
tirania sacanagem
safadeza
tudo rima uma beleza
com a pátria mãe
que nos pariu
1º de Abril
telefonaram-me
avisando-me que vinhas
na noite uma estrela
ainda brigava
contra a escuridão
na rua sob patas
tombavam homens indefesos esperei-te 20 anos
até hoje não vieste à
minha porta
VI
o poeta
estraçalha a bandeira
raia o sol marginal
quarta feira
na Geléia Geral
brasileira
o céu de abril não é de anil
nem general é my Brazyl
minha verde/amarela esperança Portugal já vendeu para França
e coração latino
balança
entre o mar do dólar do norte
e o chão dos cruzeiros do sul
VII
o poeta esfrangalha a bandeira
raia o sol marginal
sexta feira
nesta porra estrangeira e azul
que há muito índio
dizia
:
meu coração marçal tupã
sangra tupy & rock
and roll
meu sangue tupiniquim
em corpo tupinambá
samba jongo maculelê
maracatu boi bumbá
a veia de curumim
é coca cola &
guaraná
VIII
o sangue rola no parque
o sonho ralo no tanque
nada a ver com tipo
dark
muito menos com punk
meu vício letal é baiafro
com ódio mortal de yank
IX
ó baby
a coisa por aqui
não mudou nada
embora sejam outras
siglas no emblema
espada continua a ser espada poema continua a ser poema
BraZílica Pereira
neste país de fogo & palha
se falta lenha na fornalha
uma mordaz língua não falha
cospe grosso na panela
da imperial tropicanalha
não metam nestes planos
verdes/amarelos
meus dentes vãos/armados
nem foices nem
martelos
meus dentes encarnados
alvos brancos belos
já estão desenganados
desta sopa de farelos
PESSOA
não tenho pretensões
de ser moderno
nem escrevo poesia
pensando em ser eterno
veja na minha língua
as labaredas do inferno
e só use o meu poema
com a força de quem xinga
GENITAL
pasto no cosmo a soja secular de Jardinópolis onde os discos-voadores sobrevoam meu nariz na cara das metrópoles. no centro ao sul os cemitérios possuem mais mistérios que a nossa vã filosofia. tem um animal de vagina espacial na poesia & e um grande pênis roxo milenar feito espiral em círculo preparando imenso orgasmo pra festejar o fim do século.
TROPICALIRISMO
GIRAssóis pousando
Nu – teu corpo: festa
beija-flor seresta
poesia fosse
esse sol que emana
no teu fogo farto
lambuzando a uva de saliva doce.
LENÇÓIS DE RENDA
poderia abrir teu corpo
com os meus dentes
rasgar panos e sedas
com as unhas
arreganhar as tuas fendas
desatar todos os nós
da tua cama
arrancar os cobertores
rasgando as rendas dos lençóis
perpetuar a ferro e fogo
minhas marcas no teu útero
meus desejos imorais
maldizendo a hora soberana
com a força sobre humana
dos mortais
quando vens
me oferecer migalha e fruto
como quem dá de comer aos animais
ALUCINAÇÕES (IN)TERPOÉTICAS
O QUE é que mora em tua boca bia? um deus. um anjo. ou muitos dentes claros como os olhos do diabo e uma estrela como guia?
O QUE é que arde em tua boca bia? azeite sal pimenta e alho résteas de cebola um cheiro azedo de cozinha tua boca é como a minha?
O QUE é que pulsa em tua boca bia? mar de eternas ondas que covardes não navegam, rios de águas sujas onde os peixes se apagam. ou um fogo cada vez mais Dante como este em minha boca de poeta delirante nesta noite cada vez mais dia em que acendo os meus infernos em tua boca bia
LUNÁTICA
um
gato noturno
atira pedras nas estrelas
palavras e mais palavras
na carne da princesa
onde
o papel não bate
onde
o pincel não toca
o
gato noturno lambe a barriga bem perto da virilha
e trepa no muro mais próximo tentando alcançar
o outro lado da lua
em seu instante letal
de
desespero e solidão
FROYDIANA
azul
são os teus olhos
a
cor dos pelos não conheço
teus seios ainda não toquei
Dracena
– é uma terra roxa
nave
extra terrena
que humanos não decifraram
pequena vagina virgem
onde
os dedos ainda não entraram
e os cachos de uvas
apodrecem
nos teus dentes
com
um cheiro de leite ardente esguichando na distância
*
pátria a(r)mada
só me queira assim caçado
mestiço vadio latino
leão feroz cão danado
perturbando o seu destino
e só me queira encapetado
profanando aqueles hinos
malandro moleque safado
depravando os seus meninos
só me queira enfeitiçado
veloz macio felino
em pelo nu depravado
em sua cama sol à pino
e só me queira desalmado
cão algoz e assassino
duplamente descarado
quando escrevo e não assino
*
alguma poesia
não bastaria a poesia deste bonde que despenca lua nos meus cílios num trapézio de pingentes onde a lapa carregada de pivetes nos seus arcos ferindo a fria noite como um tapa vai fazendo amor por entre os trilhos.
não bastaria a poesia cristalina se rasgando o corpo estão muitas meninas tentando a sorte em cada porta de metrô e nós poetas desvendando palavrinhas vamos dançando uma vertigem no tal circo voador
não bastaria todo riso pelas praças nem o amor que os pombos tecem pelos milhos com os pardais despedaçando nas vidraças e as mulheres cuidando dos seus filhos
não bastaria delirar Copacabana e esta coisa de sal que não me engana a lua na carne navalhando um charme gay e um cheiro de fêmea no ar devorador aparentando realismo hipermoderno num corpo de anjo que não foi meu deus quem fez esse gosto de coisa do inferno como provar do amor no posto seis numa cósmica e profana poesia entre as pedras e o mar do Arpoador mistura de feitiço e fantasia em altas ondas de mistérios que são vossos
não bastaria toda poesia que eu trago em minha alma um tanto porca, este postal com uma imagem meio Lorca
:
um bondinho aterrissando lá na Urca e esta cidade deitando água em meus destroços pois se o cristo redentor deixasse a pedra na certa nunca mais rezaria padre-nossos e na certa só faria poesia com os meus ossos
Suor & Cio
*
Indigesta
ê fome negra
incessante
febre voraz gigante
ê terra de tanta cruz
onde se deu 1ª missa
índio rima com carniça
no pasto pros urubus
oh! My Brazyl ainda em alto
mar Cabral quando te viu foi logo gritando: - Terra à Vista! e de bandeja te
entregando pra união democrática ruralista
por aqui nem só beleza nesses dias de paupéria
nação de tanta riqueza país de tanta miséria
Tecidos sobre a Terra
Terra,
antes que alguém morra
escrevo prevendo a morte
arriscando a vida
antes que seja tarde
e que a língua da minha boca
não cubra mais tua ferida
entre aberto em teus ofícios
é que meu peito de poeta
sangra ao corte das navalhas
e minha veia mais aberta
é mais um rio que se espalha
amada de muitos sonhos
e pouco sexo
deposito a minha boca no teu cio
e uma semente fértil nos teus seios
como um rio
o que me dói é ver-te
devorada por estranhos olhos
e deter impulsos por fidelidade
ó terra incestuosa
de prazer e gestos
não me prendo ao laço
dos teus comandantes
só me enterro à fundo
nos teus vagabundos
com um prazer de fera
e um punhal diamante
minha terra é de senzalas tantas
enterra em ti milhões de outras esperanças soterra em teus grilhões
a voz que tenta – avança
plantada em ti
como canavial que a foice corta
mas cravado em ti
me ponho a luta
mesmo sabendo
– o vão estreito em cada porta
MOENDA
Usina
mói a cana
o caldo e o bagaço
Usina
mói o braço
a carne o osso
Usina
mói o sangue
a fruta e o caroço
tritura suga torce
dos pés até o pescoço
e do alto da casa
grande
os donos do engenho
controlam
:
o saldo e o lucro
carne proibida
o preço atual
proíbes que me comas
mas pra ti
estou de graça
pra ti
não tenho preço
sou eu quem me ofereço
a ti
: músculo e osso
leva-me à boca
e completa o teu almoço
BraziLíricaPereira
:
A Traição das Metáfora
1968
ou
:
a investigação uilcorneana
quem és tu
Uilcon Pereira
que foste fazer na Sorbonne?
ter aulas com Sartre
ou cantar a Simone?
drummundana itabirina
fedra margarida a resolvida desfilava pela última vez portando falo. Decidira decepar o pênis e desnudar de vez a sua outra mulher.
braziLírica amanheceu incrédula: manchetes, vozerios, falatórios, assembleias, faixas, cartazes. por todas as vias, multivias, multimeios, os ofendidos habitantes brazilíricos inconformados com a fedra passearam em plebiscito vociferando Não ao Sim.
E margarida flor impávida lá se foi beira-mar olhando estrelas no cruzeiro.
Mas César que não é Castro continuou a pigmentar seu mastro na outra parte da tela, e um dia fedra sorrindo, com o pênis/baton da louca, foi ao boca de luar da fedra e voltou com o luar na boca.
poema 1
entre a pele e a flor no asco com meia sola no sapato o meu vapor mais que barato industrial e infonáutico entre o couro de zinco e o cabelo mar de indecifrável plástico por entre o bronze dos teus pelos entre o gozar cibernético em todo sangue magnético a minha carne pós poeira entre a flor e o vaso de barro na homepage ou no carro na camisinha de vênus vírus H corroendo em vita/plus ou na sala meu olho gótico TVendo BraziLírica lâmpada fala por um tanto ou tanto quase cento e dez em cada fase não sendo assim acaba sendo
poema 2
debaixo da sacada a escada torta pássaro sem teto acima do delírio coração de porco crava no oco da noite a faca cega, punhal de cinco estrelas na constelação do cão maior por onde Úrsula nua passeia Dédala de Dandi Deusa de Dali lua de Dadá no coração do pintor sem fronteiras acima do pé de abóbora embaixo do pé de cajá Malásia não é aqui Espanha não além mar Salvador não é Dali a mulher que eu quero mesmo é uma Dedé que não Dadá Bia de Dante do inferno Itamarati/Itamaracá constelação ursa maior pra Dadá meu coração pra Dedé não sou cantor quando quero quero mesmo espuma nylon pele tecido isopor.
poundianna
Torquato era uma poeta
que amou a Ana
Leminski profeta
Que amou Alice
um dia pós
veio Uilcon torto
pegou a Jóia di Ana
juntou na PereirAlice
com o corpo e alma das duas
foi Bouvoir Assombradado
pra lá de França ou Bahia
roendo o osso do mito
pois tudo que Sartre dizia
o Anjo jurou já ter dito
Nonada
:
- Biúte ria
poema seis
estando quase
sempre
e mesmo estando
esteja breve
assim como uma letra
escrita a lápis
numa estrela aquarela
rabiscada a giz
estando por um raio
esteja por um triz
curto circuito
quem disse que amor é mudo surdo cego não sabe o que carrego em meu estado de sítio em meu instante de surto
pornofônico confesso
se este poema inocente primitivo natural indecente em teu pulsar navegante entrar por tua boca entre dentes espero que não se zangue se misturar o meu sangue em teu pensar quando antropo por todas bocas do corpo em total pornofonia na sangração da mulher
me diga deusa da orgia se também tu não me quer quando em ti lateja e devora palavra por palavra dentro e por fora em pornografia sonora me diga Lady Senhora nestes teus setenta anos se nunca gozou pelo ânus me diga Bia de Dora num plano lítero/estético qual humano ou cibernético que te masturba ou te deflora
*
vampiresco
um conto mínimo 2 o senhor dos anéis não mostra os dedos muito menos o coração Bradesco onde um corpo na lama menos Vale que 1 real rasgado na boca do bueiro
poética 93
tenho nojo
do Agro Negócio
que me dá asco
por tanta perversidade
quem planta veneno
é carrasco
assassino da humanidade
onde a poesia se espalha
a língua nativa
não é fogo de palha
é brasa viva
indicativo
olho
dentro
do
teu olho
para que olhe
na minha cara
e
cara a cara me diga
a
quantas anda
a
nossa briga
do
nosso amor pela ética
se é tão estranha a poética
de só pensar lá na frente
que
até perdi a conta
nesse pretérito faz de contas
das
quantas vezes
que
já votei pra presidente
e
o nosso país do futuro
que nunca chega no presente
boca do inferno
por mais
que te amar
seja uma
zorra
eu te confesso amor pagão
não tem de ter
perdão pra nós
eu quero mais
é o teu pudor de dama
despetalando em meus lençóis
e se tiver
que me matar que seja
e se eu tiver que te matar
que morra
em cada beijo
que te der amando
só vale o gozo
quando for eterno
infernizando os céus
e santificando a boca do inferno
musicado e gravado por Luis
RibeiroCD Fulinaíma Sax Blues Poesia - 2002
por entre trilhos e trilhas
por entre tralhas e troços
foto grafando os destroços
dos frutos podres no chão
cacomanga
2
ali nasci
minha infância
era só canaviais
ali mesmo aprendi
conhecer os donos de fazenda
e odiar os generais.
no poema o que ficou¿
para Cesar Augusto de Carvalho
no poema ficou caco de vidros azulejando nos azuis no poema ficou o corte mais aberto o sangue mais secreto tanto mal secando blues
no poema ficou a língua cega a faca desdentada a fome afiada onde era mel agora é pus
no poema ficou o obsceno não sagrado o beijo ensanguentado o abstrato do concreto no poema ficou um objeto um soneto esfacelado um hiato no decreto
no poema ficou mais um retalho mais um trapo do espantalho nesse circo abjeto no poema ficou o sangue amargo numa noite quase nada num curral analfabeto
no poema ficou a escuridão nuvens de cinzas onde antes era luz no poema eu fiquei de pé quebrado no velório esquartejado nessa terra tanta cruz
pátria que pariu
para Rubens Jardim
os dentes das pedras mordem a língua dos meus dias obscuros esse país teve passado não tem presente nem futuro
peixe é bicho inteligente foge do óleo criminoso derramado nos mares do nordeste - eita peixe cabra da peste!
nem sei em que planeta estamos hoje nessa infernal atmosfera capitão boçal pede desculpas pelas cagadas dos 3 filhos
Aí 5 é apenas os centímetros que um deles carrega pendurado entre as pernas esperma já virou porra nesta pátria que pariu a besta fera
mulher dos sonhos
ela ainda guarda na boca este poema entre os dentes a língua saliva sílaba por sílaba as palavras que invento ela fala em meus versos ao sabor do vento enquanto freud não explica o que ainda não fizemos ela mastiga meus biscoitos finos e vê nos búzios minhas mãos de fogo quando tem no livro este incenso aceso as entre minhas nas entre linhas dela e salta das metáforas por entre portas e janelas
a barra
o rio é uma passagem
para encarar a barra
de frente
a rede pode prender o peixe
mas não me prende
os dentes
mulher dos sonhos
pesadelo ou nem Freud explica
ontem sonhei com a mulher dos sonhos não era minha mas procurei saber quem era encontrei o endereço e ela não estava. a governanta me falou que estava em búzios. não a vi mas ouvi uma voz e me dizia: - todo escrito deve ser falado todo livro deve ser bem lido e quem fala deve ser bem escutado - o telefone toca não atendo nem sei quem está do outro lado - deu pra ver dois olhos de búzios na areia ainda molhada pela espuma das ondas e o vai e vem me deu um susto. era ela toda de branco lenço azul nos cabelos 3 contas de vidros nas mãos quando percebi quem era acordei.
grafitemas e figuralidades
estou escrevendo um mini conto um grafitema com figuralidades não é coisa de cinema a mais nua e crua realidade certa noite ela me veio não era sonho era uma noite de chuva com seus dois grandes olhos e mãos tão pequenas como quem grafita na areia um espelho d´água à beira mar na lua cheia vinha vestida de letras como o som da flauta de bambu dentro do fonema veio de longe da outra margem do rio dentro da tapera o cauim me trouxe na tigela bebi como índio na hora que vê nascer o filho beijei teus cabelos de milho e ela me perguntou o que era
catando cacos de cogumelos azuis
procurava apagar os rabiscos de giz nos azulejos enquanto ouvia edvaldo santana adonirando um blues vivi-ane preparava um chá de cogumelos azuis para depois do almoço que havíamos encontrado nas trilhas para são tomé das letras em outras histórias de minas fragmentadas com pimenta azeite e alho num caldeirão mágico incandescente a voz ultrapassava os corredores e entrava na cozinha como uma ladainha em cortejo de fulia de reis com aqueles palhaços com máscaras de bode no rosto imaginava a procissão em romaria era tudo real o chá ainda estava sendo preparado mas os efeitos já surgiam como se o líquido já tivesse sido ingerido ouvi uma das vozes da procissão me pedindo um gole depois de tomá-lo ela toda de azul vermelho dançou com muito mais volúpia e em um passo de mágica todos os outros elementos da fulia começaram um ritual fulinaímico se lançando para o alto como se fossem fogos de artifícios ninguém provou do chá mas quando a dança terminou não havia mais um gole dentro do caldeirão vivi-ane quase teve um troço ao ver o utensílio vazio.
cacos de cogumelos azuis
alguns nomes nesta cidade me provocam desconcertam meus neurônios carrapato imburi macuco muritiba uriticum lagoa dos paus sossego a vida aqui vive enrolada em seus novelos São Francisco é tão pacata mais pacata que Arcozelo quando acordada não anda quando dorme é pesadelo
cato caco nos azuis
cato cacos de vidros nos azuis lâminas de fogo nesse olho d'água algas de pedras nesse tempo ostras antes das horas que o dia tarda e os tiranos cessem seu torpor maligno cato caco de vidros nessa areia carma e provo o sal o sangue o sexo a saliva o cio dessas horas tontas são tantas horas perdidas outras desencontradas na areia da praia no rabo da arraia na ponta da lua branca nas espumas nos espermas que não fizeram filhos nas pernas nas coxas no litoral dos ânus essas horas que já se perderam nos currais do pasto de algum gentio pássaros elétricos que se ejacularam queimando as penas nas tensões dos fios nos geradores desse Zeus me livre onde netuno não aporta mais os seus navios o amor é cruel
com as unhas entranhadas em tuas coxas
escrevo como quem
cata estrelas do mar
na areia da praia
como quem come
o rabo da arraia
montado no cavalo marinho
lambendo escamas de sereia
com os dentes
cravados na memória
e as unhas entranhadas
em tuas veias
na espuma branca
de um pergaminho
psic/analítica
não durmo. sonho. Dédala passeia em minha cama sob os meus lençóis de lã toda palavra sã me despe desejo pelos poros pelos nossos corpos separados apenas pela penugem do tecido quase dentro como Joice me trazendo Dédalus para o travesseiro eu te desejo como tudo que seja carne nervos músculos ossos ela foge quando toco fogo paixão fome sede tesão sexo acho até complexo ela gostar de conversar mas não sentir ou não querer ficar olhando da janela do seu olho gótico como quem analisa feito dadaísta nem fiado nem a vista porque não pode se envolver
Delírica
da janela vou olhando o trilho de ferro do vagão barato o brasil do globo fica lá distante em brazilírica lá no meio do mato. a carne bela não viaja aqui nem mora por perto da estação da luz aqui tem merda carne de terceira lixo de primeira pele podre pus
faca
uilcônica mortal
estanco o cavalo do sonho
no teu quartel do
princípio
papel cortado na resma
a mula pasta acordada
a besta pulsa assombradada
no visgo quente da lesma
trincheira
há uma gota de sangue
entre meus olhos e os teus
e muitas velas acesas
pra salvar a nossa carne
e bocas cheias de dentes
mastigando a nossa morte
mas eles é que morrerão
meu amor : num grande susto
quando nus virem
amando nessa cama
de ferro e de pau duro
poesia para desconcertos
*
Dédalus
para
Alberto Bresciani e o seu magnífico Hidroavião
o poeta pesca peixes
na floresta de concreto
lâminas de cimento
há séculos não está pra peixe
este
mar secreto
aqui redes em pânico
pescam esqueletos no ar
linhas de naylon
degolam tartarugas
que morrem náufragas
na Av. atlântica
o poeta cata os cacos
que restaram
desta pátria desossada
dentro da noite veloz
... e se fosse não apenas o que eu quisesse ela também fosse o silêncio da fala a espera de uma outra palavra que ainda não dissemos nos vazios de nossas bocas quando a língua se esconde antes da cena acontecer. e se fôssemos como dois perdidos numa noite suja procurando a lamparina para dar a luz dentro dessa noite veloz até que exploda uma vertigem no dia ?
poética
essa espessa nuvem de fumaça arregaça meus intestinos me provoca esse estado de não sei quantas adrenalinas essa besta no cio esse desatino e o destino do menino esse veneno em cada grão de soja em cada grão de milho em cada folha de alface essa face carcomida antes dos trinta e eu aqui pensando a quantas anda os projetos do meu filho
incorporação
para Igor Fagundes
esse poema bárbaro
com fonema brazilírico
vai fazer meu aramaico
incorporar o seu delírico
palavras que incorporo
dança vento
movimento folhas
verdes no algodão
fulinaíma dançarino
sertão moleque
esse menino do frevo
xaxado xote blues rasgado baião
Jura secreta 1
a língua escava entre os dentes
a palavra nova
fulinaimânica/sagarínica algumas vezes muito prosa
outras vezes muito cínica
tudo o que quero conhecer
:
a pele do teu nome
a segunda pele o sobrenome
no que posso no que quero
a pele em flor a flor da
pele
a palavra dândi
em corpo nua
a língua em fogo
a língua crua
a língua nova a língua lua fulinaímica/sagaranagem
palavra texto palavra imagem
quando no céu da tua boca
a língua viva se transmuta na viagem
Jura
secreta 13
o tecido do amor já esgarçamos
em quantos outubros nos gozamos
agora que palavro Itaocaras
e persigo outras ilhas
na carne crua do teu corpo
amanheço alfabeto grafitemas
quantas marés endoidecemos
e aramaico permaneço doido e lírico
em tudo mais que me
negasse
flor de lótus flor de cactos
flor de lírios ou mesmo
sexo
sendo flor ou faca fosse
Hilda Hilst quando então se me amasse
ardendo em nós salgado mar e Olga risse
pulsando em nós flechas de fogo
se existisse
por onde quer que eu te cantasse
ou Amavisse
pele grafia
meus lábios em teus ouvidos
flechas netuno cupido
a faca na língua a língua na faca
a febre em patas de vaca
as unhas sujas de Lorca
cebola pré sal com pimenta
na tua língua com coentro
qualquer paixão re-invento
o corpo mar quando agita
na preamar arrebenta
espuma esperma semeia
sementes letra por letra
na bruma branca da areia
sem pensar qualquer sentido
grafito em teu corpo despido
poemas na lua cheia
Jura secreta 16
para may pasquetti
fosse esta menina Monalisa
ou se não fosse apenas brisa
diante da menina dos meus olhos
com esse mar azul nos olhos teus
não sei se MichelÂngelo
Da Vinci Dalí ou Portinari
te anteviram
no instante maior da criação
pintura de um arquiteto grego
quem sabe até filha de Zeus
e eu Narciso amante dos espelhos
procuro um espelho em minha face
para ver se os teus olhos
já estão dentro dos meus
Jura secreta 18
te beijo vestida de nua
somente a lua te espelha
nesta lagoa vermelha
porto alegre caís do porto
barcos navios no teu corpo
os peixes brincam no teu cio
nus teus seios minhas mãos
as rendas finas que vestias
sobre os teus pelos ficção
todos os laços dos tecidos
aquela cor do teu vestido
a pura pele agora é roupa
o sabor da tua língua
o batom da tua boca
tudo antes só promessa
agora hóstia entre os meus dentes
e para espanto dos decentes
te levo ao ato consagrado
se te despir for só pecado
é só pecar que me interess
Jura secreta 27
rio em pele feminina
o rio com seus mistérios
molha meu cio em silêncio
desejo o que nos separa
a boca em quantos minutos
as flores soltas na fala
o pó dos ossos dos anos
você me diz não ter pressa
seus olhos fogo na sala
o beijo um lance de dados
cuidado cuidado cuidado
que sou um anjo de fadas
não beije assim meus segredos
meus olhos faróis nos riachos
meus braços dois afluentes
pedaços do corpo do rio
meus seios ilhas caladas
das chamas não conhece o pavio
se você me traz para o cio
assim que o sexo aflora
esta palavra apavora
o beijo dado mais cedo
quebra meu ser no espelho
meu cerne é carne de vidro
na profissão dos enredos
quanto mais água me sinto
presa ao lençol dos seus dedos
o rio retrata meu centro
na solidão de mim mesma
segundo a segundo nas águas
lá onde o sol é vazante
lá onde a lua é enchente
lá onde o rio é estrada
onde coloca seus versos
me encontro peixe e mais nada
Jura secreta 29
esfinge
o amor não é apenas um nome
que anda por sobre a pele
um dia falo letra por letra
no outro calo fome por fome
é que a flor da tua pele
consome a pele do meu nome
cravado espinho na chaga
como marca cicatriz
eu sou ator ela esfinge
:
Clarice/Beatriz
:
assim vivemos cantando
fingindo que somos decentes
para esconder o sagrado
em nossos profanos segredos
se um dia falta coragem
a noite sobra do medo
é que na sombra da tatuagem
sinal enfim permanente
ficou pregando uma peça
em nosso passado presente
o nome tem seus mistérios
que se escondem sob panos
o sol é claro quando não chove
o sal é bom quando de leve
para adoçar desenganos
na língua na boca na neve
o mar que vai e vem não tem volta
o amor é a coisa mais torta
que mora lá dentro de mim
teu céu da boca é a porta
onde o poema não tem fim
Jura Secreta 37
baby cadelinha
devemos não ter pressa
a lâmina acesa
sob o esterco de Vênus
onde me perco mais
me encontro menos
de tudo o que não sei
só fere mais quem menos sabe
sabre de mim baioneta estética
cortando os versos do teu descalabro
visto uma vaca triste
como a tua cara
estrela cão gatilho morro
:
a poesia é o salto de um vara
disse-me uma vez só
quem não me disse
ferve o olho do tigre
enquanto plasma
letal a veia no líquido do além
cavalo máquina meu coração
quando engatilho
devemos não ter pressa
a lâmina acesa
sob os demônios de Eros
onde minto mais porque não veros
fisto uma festa mais que tua vera
cadela pão meu filho forro
:
a poesia é o auto de uma fera
devemos não ter pressa
a lâmina acesa
sob os panos quem incesta ?
perfume o odor final do melodrama
sobras de mim papel e resma
impressão letal
dos meus dedos imprensados
misto uma merda a mais
que tua garra
panela estrada grão socorro
:
a poesia é o fausto de uma farra
Jura Secreta 41
Goytacá Boy
musicado e cantado por Naiman
no CD fulinaíma sax blues poesia
ando por São Paulo meio Araraquara
a pele índia do meu corpo
concha de sangue em tua veia
sangrada ao sol na carne clara
juntei meu goytacá teu guarani
tupy or not tupy
não foi a língua que ouvi
em tua boca caiçara
para falar para lamber
para lembrar da sua língua
arco íris litoral como colar de uiara
é que eu choro como a chuva curuminha mineral da mais profunda lágrima
que mãe chorara
para roçar para provar
para tocar na sua pele urucum
de carne e osso
a minha língua tara
sonha comer do teu almoço
e ainda como um doido curuminha
a lamber o chão que restou da Guanabara
Jura Secreta 43
veraCidade
por quê trancar as portas
tentar proibir as entradas
se já habito os teus cinco sentidos
e as janelas estão escancaradas ?
um beija flor risca no espaço
algumas letras de um alfabeto grego
signo de comunicação indecifrável
eu tenho fome de terra
e esse asfalto sob a sola dos meus pés agulha nos meus dedos
quando piso na Augusta
o poema dá um tapa na cara da Paulista flutuar na zona do perigo
entre o real e o imaginário
João Guimarães Rosa Caio Prado
Martins Fontes
um bacanal de ruas tortas
eu não sou flor que se cheire
nem mofo de língua morta
o correto deixei na Cacomanga
matagal onde nasci
com os seus dentes de concreto
São Paulo é quem me devora
e selvagem devolvo a dentada
na carne da rua Aurora
Jura Secreta 53
sagaraNAgens fulinaímicas
guima meu mestre guima
em mil perdões eu vos peço
por esta obra encarnada
na carne cabra da peste
da Hygia Ferreira bem casta
aqui nas bandas do leste
a fome de carne é madrasta
ave palavra profana
cabala que vos fazia
veredas em mais Sagaranas
a Morte em Vidas/Severinas
tal qual antropofagia
teu grande Sertão vou cumer
nem João Cabral Severino
nem Virgulino de matraca
nem meu padrinho de pia
me ensinou usar faca
ou da palavra o fazer
a ferramenta que afino
roubei do mestre Drummundo
que o diabo GiraMundo
é o Narciso do meu Ser
Jura secreta 57
meta metáfora no poema meta
como alcançá-la plena
no impulso onde universo pulsa
no poema onde estico prumo
onde o nervo da palavra cresce
onde a linha que separa a pele
é o tecido que o teu corpo veste
como alcançá-la pluma
nessa teia que aranha tece
entre um beijo outro no mamilo
onde aquilo que a pele em prumo
rompe a linha do sentido e cresce
onde o nervo da palavra sobe
o tecido do teu corpo desce
onde a teia que o alcançar descobre
no sentido que o poema é prece
O poeta
enquanto coisa
*
obscuro
objeto do desejo
de pedra dourada
ficaram portas janelas de entradas e saídas a sedução de dois olhos em minha
carne proibida nem tanto pelo o que falo nem tanto pelo que sinto a vodka a
cereja o conhac o abismo o labirinto
de pedra dourada ficou
um café orgânico no teu sertão encantada numa manhã de domingo do outro lado da
trilha com tanta veracidade que me esqueci da idade e me apaixonei por tua
filha
de pedra dourada
ficaram olhos acesos do outro lado a janela o espelho as contas de vidro o jogo
da sedução a maravilha os passeios nas cachoeiras os banhos de bar o carnaval
aquela delícia louca o batom na minha língua o cheiro das flores do mal meu
bem-me-quer na tua boca
tragédia infame
empresto minha voz aos deserdados os desnutridos os que não tem pela manhã café com pão e sobre a mesa no almoço nem mesmo a mesa e essa pergunta pra resposta que não vinha nem bolinho de chuva nem broa de milho nem carne seca com farinha espinha de peixe na garganta é o que sobrou pra curuminha - empresto meu corpo minha voz a esses personagens os que tem sede os que tem fome ou que morrem assassinados nos guetos nos campos nas cidades por balas de canhão rajadas de fuzil estás fudido brasil entregue as traças então me resta exterminar o nome o sobrenome o apelido do causador dessa desgraça
Federico Baudelaire
Mestre
Sala da Mocidade Independente de Padre Olivácio - A Escola de Samba Oculta no
InConsciente Coletivo – Bispo da Igreja Universal do Reino de Zeus
ancestral
há muito tempo
não recebo cartas de ninguém
mas não rezo padre nossos simplesmente para dizer
amém
já fui católico rezei terços ladainhas acompanhei
a procissão dos afogados na Tapera
para
soletrar a palavra Cacomanga
e entender
que o barro da cerâmica trago grudado na minha íris retina
meu batismo de fogo
foi numa Santa Cecília
entre víboras e serpentes
mordi a hóstia do padre
sua saia preta me levou ao pânico
de sonhar com juízes
e hoje saber o que são
minha África
são os olhos negros de Madame Satã na língua tenho uma sede felina
na carne essa fome pagã
sou um homem comum
filho de Ogum com Iansã
língua
minha língua é safada nua e crua não gasta palavra a toa não canta palavra gasta nem é fado de Lisboa é blues rasgado pedra de toque samba rock plug ligado no navio ou na canoa bebe do Rio e de Sampa nos demônios da garoa fio desencapado tensão eletricidade tesão canibalidade na voracidade da Pessoa
mamãe coragem
numa canção do Lenine o peixe está na rede o mar está com sede o rio agora chora onde esta cidade pedra veracidade medra eu te esfinjo drama
onde a ferocidade Fedra eu te desejo deda eu te devoro dama
pensando a trama Torquato eu disse mamãe coragem a vida é sagaranagem na elegia da hora fulinaíma é viagem te levo na minha bagagem não chora mamãe não chora
O homem om a flor na boca
*
lugar de
não sei onde
ancorei os meus cavalos
na boca da areia
as tripas retorcidas no
galope
no areal a sinfonia do
ontem
um horizonte cinza de
um futuro que não chega
peixes flutuando depois
da asfixia levo meus assombros para um lugar de não sei onde
poema 5
para Jorge Ventura
a faca não cala do poema a fala
Dionísio Neto de Bacco
quem sabe filho de Zeus
jantou numa Santa Ceia
na casa de Prometeus
nas madrugada de Bento
lambeu o vinho nos seios
das Bacantes
no convento por todos poros
do corpo por todos pelos e meios
depois grafitou nas vidraças
com dedos de diamantes
a Rosa de Hirochima
num coração estudante
depois de romper o dia
por volta da seis e meia
era um coração de poeta
com poesia na veia
meus caninos já foram místicos simbolistas sócio políticos sensuais
eróticos mordendo alguma história agora são dentes famintos cravados na pele da
memória
escorre - nus
teus seios
espumas que jorrei e
m tua boca
ainda existe
algo entre as costas
e as coxas
algas - água
o sal da minha língua
que lambeu a tua ostra
tem algo errado nessas estatísticas de mortes dessa drástica pandemia multipliquem 60.000 X 10 e ainda não vai ser exato o número de cadáveres empilhados nos campos de concentração que transformaram esse país que nunca foi uma nação
arranco mais uma pérola
do ventre de hilda triste
na porta da tua casa
meu poema ainda insiste
a menina que matou o tempo
o vento também comia
na lâmina o catavento
pra espantar a maresia
nas ruínas de santa teresa
era domingo de poesia
bateu uma pedra no rock
e nos levou na ventania
poema 17
com os
dentes cravados na memória para Flora Filipe Sofia Alice Isadora meus tesouros
I
por todos anos 80
ipanema 83
flora recém nascida
e eu chegando aos 40
gomes carneiro
visconde de pirajá
bem próximo ao carinhoso
bartolo com seu trumpete
depois que a noite dormia
tocava uma pérola negra
e beijava o novo dia
no boteco de onde estava
conselheiro lafaiete
refúgio da boemia
me acordou com seu trumpete clarividência aflorava sonoridade – melodia
logo depois era Drummond
na praça general osório
pra enriquecer meu repertório
na pedra da poesia
II
ipanema 84
filipe recém nascido
por esses tempos vividos
naquela aldeia carioca
com todo vapor barato
na tribo os sete sentidos
nesses dentes da memória
os 5 presentes no corpo
outros 2 ganhos no tapa
pelas ruas de ipanema
ou pelos becos da lapa
poema 21
nos meus delírios baudeléricos
ou mesmo fossem baudelíricos
sonho teu corpo flor de cactos
como se fosse flor de
lírios
toco teus pelos flor do mangue
pulsando sangue em teus martírios
penso teu sexo flor de lótus
sagrada flor dos meus
delírios
resumo
ela tinha as mãos tão suaves que tocavam-se como quem tem a pele sob a chuva de setembro eu procurava colher maçãs no horto de Santa Maria Madalena olhava a montanha e lembrava-me de selvagem que fui aos olhos dela enquanto ainda vivia na tapera o meu cavalo deixava na porta da cidade escrevi sobre isso no poema quando o tempo rasgou meu corpo na calçada e trouxe-me folhas de papel em branco.
Goytacá Boy 2
araraquara guaxindiba itaocara
grumari o que liga essas palavras
ao eu vocabulário a carne índia
o sangue a cachaça paraty
grussaí guarapary baia da guanabara
juntei meu goytacá seu guarani
tupi or not tupi
não foi a língua que ouvi
em tua boca caiçara
capivari tucuruvi taubaté pindamonhangaba piracicaba pirapora piraí paranapiacaba
vim da tapera carioca
do roçado do aipim
cacomanga minha toca
meu coração ururaí
tupinambá goytacá tupiniquim
quanta selva quanta mata
desmatada desde o dia que o português pisou aqui
para falar para lamber para lembrar
da sua língua arco íris litoral
como colar de uiara
é que eu choro como a chuva curuminha mineral da mais profunda lágrima
que mãe chorara
para roçar para provar para tocar
na sua pele urucun de carne e osso
a minha língua tara
sonha cumer do teu almoço
e ainda como um doido curuminha
a lamber o chão que restou da Guanabara
juntei meu goytacá seu guarani
tupi or not tupi
não foi a língua que ouvi
em sua boca caiçara
gargaú guriri itapevi
abapuru minha musa antropofágica
tem o nome de pagu
tarcila anita d´alkmim
itaim guarujá piratininga
itapetinga itaquera
quantas palavras ensanguentadas
nas taperas
santeiro do mangue minha pátria
meu tesouro 100 anos se passaram
como vento e são paulo transformou-se nessa selva de concreto uma cidade de cimento
olho de lince
para Tchello d´Barros
onde engendro a Sagarana
invento a Sagaranagem
entre a vertigem e a voragem
na palavra de origem
entre a língua e a miragem
São Bernardo e Diadema
mordendo : o vírus da linguagem
no olho de lince do poema
Tem diversos livros publicados, sendo os mais recentes SagaraNAgens Fulinaímicas (Edições Du Bolso – 2015), Juras Secretas (Editora Penalux, 2018) O Poeta Enquanto Coisa (Editora Penalux – 2020 ) e Pátria A(r)mada (Editora Desconcertos, 2019). Prêmio Oswald de Andrade – UBE-Rio – 2020 – O Homem Com A Flor Na Boca (Editora Litteralux - 2023)
Dirigiu a Oficina de Artes Cênicas do Instituto Federal Fluminense em Campos dos Goytacazes-RJ de 1975 a 2002.
Em 1983, criou o projeto Mostra Visual de Poesia Brasileira
Em 1993, idealizou o projeto Mostra Visual de Poesia Brasileira Mário de Andrade — 100 Anos — realizada pelo SESC São Paulo.
Em 1995 criou o Projeto Retalhos Imortais do SerAfim – Oswald de Andrade Nada Sabia de Mim, executado pelo SESC-SP em várias unidades na capital e pelo Estado.
Em 1999 criou o FestCampos de Poesia Falada, realizado até 2019 pela Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima, em Campos dos Goytacazs-RJ onde foi Diretor de Projetos Especiais de 1999 a 2004.
Em 2002 lançou o CD Fulinaíma Sax Blues Poesia , com seus parceiros Dalton Freire, Luiz Ribeiro, Naiman e Reubes Pess.
Em 2021 fez curadoria para a Mostra Cine e Vídeo De Poesia Falada. realizada pelo SESC Piracicaba-SP.
Integrou a Comissão Julgadora do Festival Cine Urutu, realizado pela Prefeitura de Pindamonhangaba-SP
Em 2022 criou o Projeto: Geléia Geral - Semana de 22 - 100 Anos Depois - realizado na Santa Paciência - Casa Criativa - Campos dos Goytacazes-RJ
Em 2023 criou o Sarau Mltilinguagens - realizado pela Faundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima - Campos dos Goytacazes-RJ
Em 2024 realizou a Balbúrdia Poética 3 - no Bar do Ernesto Lapa - Rio de Janeiro - em parceria com Tchello d`Barros e Luis Turiba
Com seu videopoema Goytacá Boy é um dos poetas que integram a Mostra Virtual de Videopoemas do Projeto Bossa Criativa, Arte de Toda Gente, realizado pela FUNRTE Rio.
*
Atualmente exerce a função de Coordenador de Cultura na Fundação Cultural Jornalista Oswaldo Lima em Campos dos Goytacazes-RJ e tem iunéditos os livros : Vampiro Goytacá Canibal Tupiniquim e Itabapoana Pedra Pássaro Poema
Fulinaíma MultiProjetos