Deus não
joga dados
Mas a
gente lança
tenta –
em arte tudo se inventa
Eu tenho flores
com a
língua atravessada em cada canto da boca
EuGênio Mallarmè
Dê Livros
Dê Beijos
Dê Lírios
Delicadezas
para Sofia Brito
Bebo teus olhos atlânticos
e tua voz portuguesa
como quem bebe no Tejo
saudades de Lisboa
caminho com os teus passos
em direção ao poema do desassossego
Florbela Espanca Alberto Caieiro Fernando Pessoa
Baudelíricas Baudeléricas
o poema uma beijo em tua boca bruna
tem um B entranhado entre as coxas a pele das amoras gemem quando venta forte
em tuas fêmeas pelas ventas hoje comi duas nessa manhã incendiária quando vim da
cacomanga trouxe nos bolsos da calça remendada linha carretel cola de trigo
cerol bambu papel de pipa pique bandeira pique esconde jabuti preá da índia pés
de abóboras replantáveis o pé de abacate ainda não nasceu Isadora chegou ontem
30 de março numa tarde outono à sol aberto noite gelada frio na medula maya
ainda escreve sobre depressão no tempo falks may abriu as asas pra malásia e a
outra mora do outro lado em outra terra rio grande muito longe tenho sede
Federico
Baudelaire
As vezes me re-par-to mul-ti-pli-co em 7 alegria noves fora nada tudo é baudelérico fedederico me dizia leonardo fez 80 afonso 84 na rede somos 3 quando ele vem já somos 4 em temporais escrevo e sangro como boi antes da morte muitos outros já se foram e nem gozaram em 69 se eu me lembrar 64 não posso esquecer 68 era uma noite de maio peguei o trem pra são cristóvão depois avião para brasília quando voltei no espelho dédala estava dentro da tipografia
Em 1995 no Centro Cultural Maria Antônia, na USP, assisti uma encenação de Cacá de Carvalho, com texto de Pirandello que me pegou da medula ao osso. A plateia era de 40 pessoas apenas e Cacá circulava entre nós com a sua energia pulsante magnética. O texto era um fragmento da trilogia que ele deu o título O Homem Com A Flor Na Boca. E a ele, Cacá de Carvalho, dedicamos este livro.
Ofício de Poeta
franzir a noite
é o mesmo que bordar o dia
costuro o tempo
com linha de pescar moinhos de vento
entre o franzido e o bordado
escrevo um desenredo
e vou foto.grafando
filmando poesia
na solidão dos meus brinquedos
II
costuro arco-íris
com linhas de bordar
teus olhos d´água
III
pego na enxada diariamente
para capinar o quintal
da estação três cinco três
literalmente
não é metáfora
para lamber cio da terra
como na canção que Chico fez
IV
a poesia as vezes me vem da fala
outras de vozes absurdas
na travessia cantei pontos de Jongo
em Folias de Reis Festas Juninas
despachos de Macumba
para me defender dos capataz
nunca vivi porto seguro
na minha praia não tem cais
escrevo como falo aprendi com os ancestrais
V
com uma câmera nas mãos
um poema na cabeça
vamos filmar o poema
antes que desapareça
A folha de papel em branco sobrevoa a transparência diante do
espelho onde me espreitam dois grandes olhos
feito jabuticabas de um pomar que inda procuro a palavra escrita ainda
não dita de um desejo impuro e a folha branca de papel pousa em tuas mãos como
um pássaro não nascido ainda vindo do futuro.
carne
proibida 2
abusas no meu e-mail
no centro de gravidade
desse meu corpo elétrico
não me dissestes porque veio
acender a lâmpada
na metafísica dos poros
devoro teu corpo atlântico
com meu canino esquerdo
minha fome é quântica
como um barril de pólvora
com o pavio aceso
II
salsa alecrim alfavaca cebolinha
azeite limão hortelã vinagre
azeite com pimenta
quem resiste esse peixe temperado
que a poesia em mim inventra
vem lambe minha língua
que esse me(u)l sal te alimenta
tempestade/temporais
eu
sou avesso atravesso a cidade
com
o que me interessa
as
vezes sou sossego outras vezes tenho pressa
não
procuro o que não quero
me
abstenho no que faço
me
abstrato quando posso
me
concreto em cada passo
o
compasso é argamassa
o
absinto quando traço
uma
linha nunca reta
da
palavra em descompasso
se
sou torto não importa
em
cada porta risco um ponto
pra
revelar os meus destroços
no
alfabeto do desterro
a
carnadura dos meus ossos
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