terça-feira, 5 de outubro de 2021

o delírio é a lira do poeta

 


                        Terra em Transe

 em 1990 estava eu em Registro em mais uma transa  literária que tinha sido iniciada em Jardinópolis depois de uma passagem por Batatais, onde Hygia Calmon Ferreira, a musa do poema Sagaranagens Fulinaímicas, me apresentou algumas  estudantes  do curso de letras na UNESP, em São José do Rio Preto.

Em Batatais, quando desci do palco do Teatro Municipal, dois lábios vermelhos carnudos encarnados e dois olhos azuis vidrados vibravam em minha direção, era Cláudia, que ganhou  beijo na boca e alguns anos depois Copacabana consumou  nossos desejos.

Em Registro era uma noite de Sarau no restaurante onde jantávamos  e eu ali absurdado com os poetas soprando palavras ao vento, foi quando Mariana de Piracicaba, vindo a mim feito ondas, me ofereceu saliva ardente numa pétala de rosa branca e espuma vermelha de batom -   delírios em sua língua de Vênus.

 

Desde então queimando em mar de fogo me Registro

 

                                                                       hoje

o maior desafio

                          permanecer Nu cio


Ando alpha

Quase beta

Meu destino : ser poeta

                     

 A mulher dos sonhos

 

ela ainda guarda na boca este poema entre os dentes a língua saliva sílaba por sílaba as palavras que invento ela fala em meus versos ao sabor do vento enquanto freud não explica o que ainda não fizemos ela mastiga meus biscoitos finos e vê nos búzios minhas mãos de fogo quando tem no livro este incenso aceso as entre minhas em  entre linhas dela e salta das metáforas por entre portas e janelas

 

no poema o que ficou?

para

Cesar Augusto de Carvalho



no poema ficou caco de vidros 

azulejando nos azuis

no poema ficou o corte mais aberto

o sangue mais secreto

tanto mal secando blues

 

no poema ficou a língua cega

a faca desdentada

a fome afiada onde era mel agora é pus

no poema ficou o obsceno não sagrado

o beijo ensanguentado

o abstrato do concreto

no poema ficou um objeto

um soneto esfacelado

um hiato no decreto

 

no poema ficou mais um retalho

mais um trapo do espantalho

nesse circo abjeto

no poema ficou o sangue amargo

numa noite quase nada

num curral analfabeto

 no poema ficou a escuridão

nuvens de cinzas

onde antes era luz

 

no poema eu fiquei de pé quebrado

no velório esquartejado

nessa terra  de  tanta cruz



                                                   

                            Dédalus

para Alberto Bresciani

e o seu magnífico Hidroavião

 

O poeta pesca peixes

na floresta de concreto

lâminas de cimento

 

há séculos

não está pra peixe este mar

aqui redes em pânico

pescam esqueletos no ar

 

linhas de nylon

degolam tartarugas

que morrem náufragas

na Av. atlântica

o poeta cata os cacos que restaram

desta pátria desossada

 

 

 arde em mim

um rio

de palavras

 

corpo larvas erupção

mar de fogo

vulcão

 

 

 no romance do Poema

Mário Faustino traçou o seu destino

 

FederikaLispector

 

havia ali
o voo
em que Faustino
se dissolveu
no ar
tornou-se
fausto
anjo
aéreo

 

Herbert Valente de Oliveira

 

 

                                                         Irreverência ou Morte!


Gigi Mocidade

 

escrevo para não morrer antes da morte


Federico Baudelaire

 

 

o poema é um lance de dados

mas não fugirá ao acaso

 

Stefane Mallarmè

 

 

 linguagem toda viagem

 

imagens sempre me levam a viagens impensadas fotografias me levam a grafias outras imagens recriadas escrevo não como Manuel Bandeira para não morrer mas como Federico Baudelaire para não morrer antes da morte. ontem o sonho me trouxe ela de volta leve como espuma quando beija a pele da areia. muitas vezes imagens me levam a viajar -  como deve ser escrever para não enlouquecer ¿  muitas vezes algas que ela  traz no mar da boca desce abaixo do umbigo e se encaixa entre as coxas encharca a língua de saliva e me lembra algum despacho Olga Savary quando me diz que mar é o nome do seu macho.

 

 poema

 

o poema pode ser  a orelha de Van Gog bandeirinhas de Volpi os rabiscos de Miró  o assassinato de Lorca o poema pode ser  o que vai o que não fica Lupicínio na Mangueira Noel Rosa na Portela uma jangada de velas um parangolé do Oiticica o poema pode ser os meus músculos de ossos a minha pele de sangue a morte ancestral em cada mangue e os negros nervos de aço estraçalhados em Martinica o bombardeio de Guernica o cubismo de Picasso

 

 o Delírio é a Lira do Poeta

se o Poeta não Delira

sua Lira não Profeta

                                           

Artur Fulinaíma

 

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