O ARDOR DOS DIAS
Desfazia-se no ardor dos dias
o recolhimento febril das horas
como se, pôr em ordem, a cama
desfeita desequilibrasse o viço
do tempo.
Fazia de mim tua antítese,
rindo o silêncio do meu segredo
para além das coisas inanimadas.
Um palhaço triste haveria
de nos fazer gargalhar,
mas eu compartilhava
sua dor irrevelável
nalgum gesto vacilante,
nalgum tropeço do corpo,
cujo corpo guiava-se à revelia,
que já não era mais corpo,
tampouco uma exibição.
A vela ardia sobre a mesa
no vislumbre embriagado
da luz oscilante e, de costas
para mim, tu soluçavas,
não sei se de riso,
não sei se de choro,
mas o ardor dos dias
recolhia febrilmente
as horas.
Dudu Galisa
país dos bacharéis
pretos pobres
tão rebaixados
pobres pretos
leões de chácara
olham pretos pobres
da cabeça aos pés
para lhes negar
servidão de passagem
Raptado da time line no facebook de Lau Siqueira
o assovio, pouco a pouco
foi-se fazendo mais agudo e intenso.
um trompete e os dedos grandes
de unhas brancas, meio amareladas
em um fim de tarde
começo de escuridão
tão amarelada quanto aquelas unhas.
e aquele rosto que se aproximava
com uma sevícia sobrenatural,
arregalava os olhos, depois fechava-os
até que sua face se enrugasse
e nos dilacerasse ante o fogo cruzado
das ruas – invisível àquele fim de tarde,
começo de escuridão.
ainda assim, eu me refaço nas entranhas
da noite, como quem ressuscita um jazz
esquecido, desprezado, cortante
diabólicamente arquitetado,
carnal e renascido nas intempéries
dos guetos e esgotos e jornais amassados
e comidas jogadas no lixo e óleo derramado
na pista e uma puta sonolenta na esquina,
enquanto tentamos aprender o que
vida às vezes esconde noutras ensina.
as coisas amadurecem seus nomes
trocam de pele: tocam nossos olhos
atentos ao movimento mínimo do mundo
desde a raiz selvagem crescendo por dentro
da potência até as roupas no varal que respondem ao vento com seus vazios como velas de um barco no mar: perceber esse mínimo mundo é encontrar em cada ser contemplado com o silêncio
a pulsão que nutre o olho e o humano
parte da micro-
matéria
carlos orfeu
ali, onde não nos alcançamos
beirando o precipício
traçamos outros rumos
enquanto o desejo adormece
aqui, entre os seios
ali, entre as coxas que o contém
Benette Bacellar - 2022
Daria Endresen Art
Dois corpos frente a frente
são às vezes duas ondas
e a noite um oceano
Dois corpos frente a frente
são às vezes duas pedras
e a noite um deserto
Dois corpos frente a frente
são às vezes raízes
na noite enlaçadas
Dois corpos frente a frente
são às vezes navalhas
e a noite um relâmpago
Dois corpos frente a frente
são dois astros que caem
num céu vazio
Octávio Paz
Raptado da time line no facebook de Dudu Galisa
Clic no link para ver o vídeo
https://www.youtube.com/watch?v=VfjXwbzOiOg
Dê Livros
Dê Lírios
Dê Beijos
Dia 1º de Maio inauguração da Biblioteca Bracutaia
Doações de livros podem ser enviadas para Rua Ari Parreira, 26 - Barra Velha - Gargaú - São Francisco do Itabapoana-RJ - 28230-000
não tenho a pele com a cor
que eu desejava vermelha
a minha espelha transparência
quase espelho d´água
meu desejo em ser índia
orucun na carne fogo
não brotou quando fui parida
mas tenho a cor que quero
quando aponto os olhos
pra ferida aberta
em qualquer canto desse mundo
Rúbia Querubim
www.coletivomacunaimadecultura.blogspot.com
o itinerário dos pássaros
são tão imprevisíveis
quanto os meus
Rúbia Querubim voa
em meus dê lírios
como um beija-flor
beija o néctar das flores
na estação dos sonhos
que ainda não tive
Federico Baudelaire
www.arturkabrunco.blogspot.com
por aqui nessa trincheira
por entre mangues soterrados
tenho de sobra algum desejo
Dê Livros
Dê Lírios
Dê Beijos
Artur Gomes Fulinaíma
www.fulinaimargem.blogspot.com
ma cum ba
abaráebóubu axé babá
na carnavalha dos tambores
o corpo incorpora o tempo/dança
a língua de exu
lambe as coxas de yansã/menina
os pelos/púbis ossanha
embaixo dos tecidos
palavra líquida lavra pelas pernas
Eros eletrizando peles bocas pelos
gritos enquanto o rito segue
seus ancestrais preceitos
ma cum ba no meu peito
xangô meu feiticeiro
oxum encanto tantas línguas
cantam pra tirar quebrando
de algum corpo nem santo
quando ogum vem pro terreiro
Artur Fulinaíma
O Poeta Enquanto Coisa
Editora Penalux – 2020
www.secretasjuras.blogspot.com
fosse o que eu quisesse
apenas um beijo roubado em tua boca
dentro do poema nada cabe
nem o que sei nem o que não se sabe
e o que não soubesse
do que foi escrito
está cravado em nós
como cicatriz no corte
entre uma palavra e outra
do que não dissesse
Artur Gomes
www.fulinaimagens.blogspot.com
Fulinaíma MultiProjetos
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