segunda-feira, 4 de outubro de 2021

nonada

              


                                   nonada

:

o homem com a flor na boca

 

 vida toda linguagem

língua o trem da viagem

 

pinda o nome

na terceira margem do rio orucun

 

o mato grosso

me acertava

com algo

que ainda não conhecia

 

flecha de fogo certeira

Divanize me alertava

e o coração estremecia

 

os dias selvagens te ensinam

Aricy de minas

refletia

 

o amor no cerrado sangrava

como um beijo no asfalto

na boca de quem comia

 

o barco deslizava nas águas

do Paraguai

em direção ao futuro que não vinha

 

o homem com a flor na boca

atravessou o pantanal

com o seu poema pássaro

 

ave palavra profana

cabala que voz fazia

 

moro no teu mato dentro

não gosto de estar por fora

tudo que me pintar eu invento

como beijo no teu corpo agora

 

de suas janelas ela me olhava

como alguém que ainda não me percebia

o barco seguia seu fluxo

o sangue na veia era o que mais me ardia

 

ela só tinha nos olhos

animais aquáticos

os pássaros vez em quando

pousavam em suas janelas

 

minha língua lendo Ivo

me revelava o tempo e a ostra

 

campos era uma cidade

noblesse uma livraria

nas veias da mocidade

arte era o que existia

 

e a bruxa dos cacos de cogumelos azuis

me confessou rasgando um blues

com os gumes da carnavalha

e as lâminas de um canivete

prometeu esquartejar os vermes

na próxima sexta vinte e sete

 

 na noite consagrada ao desfile

toda cidade enfeitada

 para um novo  ritual

amanheceu a flor do pântano

e era domingo de carnaval

 

colorau o nome  do  vermelho

com que batizei o festival

 

no nine nem

língua toda viagem

linguagem que me convém

 

em meu estado de surto

Sartre de  poesia

mama áfrica

a minha mãe já me dizia

ferramenta de barbeiro é carnavalha

a do poeta deve ser filosofia

 

retorno da viagem o hiato

(entre parênteses) porto viejo canavarro

onde o barro da carne era mais quente

carnaval com fogos de artifícios

um ritual em algum navio alguma nave

o pantanal o mato grosso

uma viagem a travessia

 

cada escola de samba que passava

era  um  grito de nostalgia

o pelo na pele arrepiava

oswaldívia me visitava

e quem disse que me alivia

 

 o corpo em transe delira

e o povo de lá  sucupira  

entre o pantanal de  Corumbá

 e a fronteira  na Bolívia

meu corpo todo à deriva

no mato grosso do sul

no barco só tripulantes

com seus turbantes azuis

lábios vermelhos das tintas

extraídas dos urucuns

 

 onde índios mascam contentes

as suas folhas de coca

e celebram seu presidente

Evo Morales  nativo

o fogo daquela gente

num ritual transitivo

me leva a muitas cervejas

do outra lado a fronteira

de santa cruz de lá sierra

 

 a barra do sol cana brava

usina de sal minha terra

onde Stella   me esnobava

mas bom cabrito não berra

atravessei a fronteira

fui dançar  com gabriela

uma índia  boliviana

que me agarrou pelas costelas

e me amarrou num trava língua

como os meus  tempos na tapera 


a traição das metáforas

 sagaranoses nasceu do sal palavra fruta depois da flor - o rio escorre no seu leito em direção ao mar ou a procura de um outro rio para em seu leito se deitar - o bago da semente quando está no cio explode em nova criação - palavra tenho procurado nesta cidade mais pacata que arcozelo quando acordada não anda quando sonha é pesadelo - pós os ismos tudo é pós na carne das aranhas na pele dos lençóis no palco do teatro na tela do cinema a palavra que procuro é clara quando não é gema - tem nomes que me provocam desconcertam meus neurônios dickman por exemplo essa palavra concreta argamassa na carne dos meus 7 primeiros dias comendo carne de sol carne seca com farinha na boca da barra pela praia no mar do desassossego

 

 absurdado

 

 não fosse fulinaíma

federico baudelaire talvez não

existisse

ou até quem sabe fosse

um drummundo disfarçado

nem também sagaranagens

e outras derivações da fala

que eu tenha re-inventado

 

ou da mesma forma na escrita

também não existisse esse  caldeirão

de miragens

quando penso escrevo ou falo

o objeto logo ali  na frente

meu falo dorme contigo

mas o caminho até ele percorrido

pode dar voltas pros lados

cambalhotas – pelas  trilhas

estraçalhar tralhas atalhos

vasculhar telhados arrombar quadrilhas

de cacomanga a assombradado

 

passando por alguns   países

assombrações  cemitérios

que uma ou mais  palavras contém

nem sei como vem as tantas

quando estou nessas  tontas

dias manhãs tardes noites madrugadas

envolvido nos lençóis da  pele ostra 

ou na lã de cada palavra que me vem

mesmo quando não procuro

ou mesmo quando não tanto

que o pranto não se contém

e o quanto nem sei  quantas

vezes

 

que tenho te procurado

em falhas folhas em  fibras e fímbrias

de uma qualquer coisa

que me diga o quando é

ou não me explique e me deixe

 gosto de desamor atravessado

num feixe de luz espinha de  peixe

cada vez mais                   absurdado 

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