nonada
:
o
homem com a flor na boca
vida toda linguagem
língua o trem da viagem
pinda o nome
na terceira margem do rio orucun
o mato grosso
me acertava
com algo
que ainda não conhecia
flecha de fogo certeira
Divanize me alertava
e o coração estremecia
os dias selvagens te ensinam
Aricy de minas
refletia
o amor no cerrado sangrava
como um beijo no asfalto
na boca de quem comia
o barco deslizava nas águas
do Paraguai
em direção ao futuro que não vinha
o homem com a flor na boca
atravessou o pantanal
com o seu poema pássaro
ave palavra profana
cabala que voz fazia
moro no teu mato dentro
não gosto de estar por fora
tudo que me pintar eu invento
como beijo no teu corpo agora
de suas janelas ela me olhava
como alguém que ainda não me percebia
o barco seguia seu fluxo
o sangue na veia era o que mais me ardia
ela só tinha nos olhos
animais aquáticos
os pássaros vez em quando
pousavam em suas janelas
minha língua lendo Ivo
me revelava o tempo e a ostra
campos era uma cidade
noblesse uma livraria
nas veias da mocidade
arte era o que existia
e a bruxa dos cacos de cogumelos azuis
me confessou rasgando um blues
com os gumes da carnavalha
e as lâminas de um canivete
prometeu esquartejar os vermes
na próxima sexta vinte e sete
na noite consagrada ao desfile
toda cidade enfeitada
para um
novo ritual
amanheceu a flor do pântano
e era domingo de carnaval
colorau o nome do vermelho
com que batizei o festival
no nine nem
língua toda viagem
linguagem que me convém
em meu estado de surto
Sartre de
poesia
mama áfrica
a minha mãe já me dizia
ferramenta de barbeiro é carnavalha
a do poeta deve ser filosofia
retorno da viagem o hiato
(entre parênteses) porto viejo canavarro
onde o barro da carne era mais quente
carnaval com fogos de artifícios
um ritual em algum navio alguma nave
o pantanal o mato grosso
uma viagem a travessia
cada escola de samba que passava
era um grito de nostalgia
o pelo na pele arrepiava
oswaldívia me visitava
e quem disse que me alivia
o corpo em transe delira
e o povo de lá
sucupira
entre o pantanal de
Corumbá
e a
fronteira na Bolívia
meu corpo todo à deriva
no mato grosso do sul
no barco só tripulantes
com seus turbantes azuis
lábios vermelhos das tintas
extraídas dos urucuns
onde índios mascam contentes
as suas folhas de coca
e celebram seu presidente
Evo Morales
nativo
o fogo daquela gente
num ritual transitivo
me leva a muitas cervejas
do outra lado a fronteira
de santa cruz de lá sierra
a barra do sol cana brava
usina de sal minha terra
onde Stella me esnobava
mas bom cabrito não berra
atravessei a fronteira
fui dançar
com gabriela
uma índia
boliviana
que me agarrou pelas costelas
e me amarrou num trava língua
como os meus
tempos na tapera
a traição das metáforas
sagaranoses nasceu do sal palavra fruta depois da flor - o rio escorre no seu leito em direção ao mar ou a procura de um outro rio para em seu leito se deitar - o bago da semente quando está no cio explode em nova criação - palavra tenho procurado nesta cidade mais pacata que arcozelo quando acordada não anda quando sonha é pesadelo - pós os ismos tudo é pós na carne das aranhas na pele dos lençóis no palco do teatro na tela do cinema a palavra que procuro é clara quando não é gema - tem nomes que me provocam desconcertam meus neurônios dickman por exemplo essa palavra concreta argamassa na carne dos meus 7 primeiros dias comendo carne de sol carne seca com farinha na boca da barra pela praia no mar do desassossego
absurdado
não fosse fulinaíma
federico baudelaire talvez não
existisse
ou até quem sabe fosse
um drummundo disfarçado
nem também sagaranagens
e outras derivações da fala
que eu tenha re-inventado
ou da mesma forma na escrita
também não existisse esse caldeirão
de miragens
quando penso escrevo ou falo
o objeto logo ali na frente
meu falo dorme contigo
mas o caminho até ele percorrido
pode dar voltas pros lados
cambalhotas – pelas trilhas
estraçalhar tralhas atalhos
vasculhar telhados arrombar quadrilhas
de cacomanga a assombradado
passando por alguns países
assombrações cemitérios
que uma ou mais palavras contém
nem sei como vem as tantas
quando estou nessas tontas
dias manhãs tardes noites madrugadas
envolvido nos lençóis da pele
ostra
ou na lã de cada palavra que me vem
mesmo quando não procuro
ou mesmo quando não tanto
que o pranto não se contém
e o quanto nem sei quantas
vezes
que tenho te procurado
em falhas folhas em fibras e
fímbrias
de uma qualquer coisa
que me diga o quando é
ou não me explique e me deixe
gosto de desamor atravessado
num feixe de luz espinha de peixe
cada vez mais absurdado
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