segunda-feira, 4 de outubro de 2021

poéticas utópicas

  


                                  nathalia osório

 

nem sei quando te olhei a primeira vez

com esse olhar de capitu

mas já estava lá entre o sangue

a carne a pele os músculos

      travegava na paisagem

como quem descasca   manga

e despe até o caroço

eram 5 horas da tarde de sol e árvores

de um dia que não sei qual era

mas já estava lá entre as retinas

a íris flor de lótus lírios

e o mar entre os cabelos


não eram ondas magnéticas

elétrica sinergia entre dois corpos animais

fôssemos cavalos aranhas mesmo  peixes

mas estava lá trêmula indecisa

          e só falava entre os lábios

palavras que nem eu mesmo decifrara

quando toquei tuas mãos pela primeira vez


II

 

na des(construção) do corpo

fiz um trato comigo

com os olhos com os ouvidos

                           com o umbigo

 

pele por pele dente por dente

músculo por músculo pelo por pelo

medula por medula osso por osso

 

a sombra de narciso no espelho d´água

 

nathalia é o nome do desejo

                     aos pés da porta

entre avencas e amoras

minha flor de pêssego

pitangas mangas carambolas

 

o cheiro de alfavaca pirandella

juras secretas o livro que ela guardou

entre as costelas no litoral das costas

                                                 quânticas

 

fosse uma cama meu quintal

lençóis seriam folhas de hortelã

 

desço o dorso como quem desce

o corcovado ou o cristo redentor

soletrando as linhas curvas

do seu corpo como quem olha

a arquitetura de oscar niemeyer

nas dunas do barato em Ipanema

ou na praia do pecado em macaé

com o colírio de  batom na boca

e um gosto de mordida na maçã

 

ouço cecília nos versos

que em sua voz ainda não vieram 

mas virá -  dizendo

:

 meus olhos são duas jabuticabas

que te espreitam selvagens

quando molha minha carne

como quem morde a ostra

na profana saliva da linguagem 


Ofício de Poeta

 

franzir a noite

é o mesmo que bordar o dia

costuro o tempo

com linha de pescar moinhos de vento

entre o franzido e o bordado

escrevo um desenredo

e vou foto.grafando

filmando poesia

na solidão dos meus brinquedos 


tragédia infame

 

empresto minha voz aos deserdados

os desnutridos

os que não tem pela manhã café com pão

e sobre a mesa no almoço nem a mesa

carne seca com farinha

espinha de peixe na garganta

é o que sobrou pra curuminha

 

empresto meu corpo minha voz

a esses personagens

os que tem sede  os que tem  fome

ou os que morrem assassinados

 

nos guetos  nos campos nas cidades

por balas de fuzil  está fudido esse brasil

entregue as traças então me resta

exterminar o nome o sobrenome o apelido

                         do causador dessa desgraça

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