nathalia osório
nem sei quando te olhei a primeira vez
com esse olhar de capitu
mas já estava lá entre o sangue
a carne a pele os músculos
travegava na paisagem
como quem descasca manga
e despe até o caroço
eram 5 horas da tarde de sol e árvores
de um dia que não sei qual era
mas já estava lá entre as retinas
a íris flor de lótus lírios
e o mar entre os cabelos
não eram ondas magnéticas
elétrica sinergia entre dois corpos animais
fôssemos cavalos aranhas mesmo
peixes
mas estava lá trêmula indecisa
e só falava entre os lábios
palavras que nem eu mesmo decifrara
quando toquei tuas mãos pela primeira vez
II
na des(construção) do corpo
fiz um trato comigo
com os olhos com os ouvidos
com o umbigo
pele por pele dente por dente
músculo por músculo pelo por pelo
medula por medula osso por osso
a sombra de narciso no espelho d´água
nathalia é o nome do desejo
aos pés da porta
entre avencas e amoras
minha flor de pêssego
pitangas mangas carambolas
o cheiro de alfavaca pirandella
juras secretas o livro que ela guardou
entre as costelas no litoral das costas
quânticas
fosse uma cama meu quintal
lençóis seriam folhas de hortelã
desço o dorso como quem desce
o corcovado ou o cristo redentor
soletrando as linhas curvas
do seu corpo como quem olha
a arquitetura de oscar niemeyer
nas dunas do barato em Ipanema
ou na praia do pecado em macaé
com o colírio de batom
na boca
e um gosto de mordida na maçã
ouço cecília nos versos
que em sua voz ainda não vieram
mas virá - dizendo
:
meus olhos são duas jabuticabas
que te espreitam selvagens
quando molha minha carne
como quem morde a ostra
na profana saliva da linguagem
Ofício de
Poeta
franzir a noite
é o mesmo que bordar o dia
costuro o tempo
com linha de pescar moinhos de vento
entre o franzido e o bordado
escrevo um desenredo
e vou foto.grafando
filmando poesia
na solidão dos meus brinquedos
tragédia infame
empresto minha voz aos deserdados
os desnutridos
os que não tem pela manhã café
com pão
e sobre a mesa no almoço nem a mesa
carne seca com farinha
espinha de peixe na garganta
é o que sobrou pra curuminha
empresto meu corpo minha voz
a esses personagens
os que tem sede os que tem
fome
ou os que morrem assassinados
nos guetos nos campos nas cidades
por balas de fuzil está fudido esse brasil
entregue as traças então me resta
exterminar o nome o sobrenome o
apelido
do causador dessa
desgraça
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