terça-feira, 5 de outubro de 2021

dados de dedos no lance



dada

um poema mallarmaico

satírico freudelírico aramaico

onde voz nenhuma me alcance

um lance de dedos nos dados

uns dados de dedos no lance


disfunções léxicas na fala

 

essa pedra de riscar faca
língua de satã
em tudo que essa língua fala
em tudo que essa língua diz
em tudo que essa língua lambe
em tudo que essa língua toca
o que há em mim não se controla

gramophone gravidade graviola 


onde vais cinzia farina

toda vestida de letras

como quem grafita na areia

esse seu espelho d´água

à beira mar na lua cheia 

nonada

 

nonada no meu prato

na hora do almoço

nonada no meu prato

na hora do  jantar

 

nesse país a fome é tanta

                                                                     comeram meu calcanhar 


no lance de tantos dedos
no jogo de tantos dados
meus 5 sentidos mordem
os signos
sem decifrar os   significados

se continuarmos

a dar o queijo para  os ratos

eles continuarão a

a roer nossos sapatos 


grafitemas e figuralidades

 estou escrevendo um mini conto um grafitema umas figuralidades não é coisa de cinema a mais nua e crua realidade certa noite ela me veio não era sonho era uma noite de chuva com seus dois grandes olhos e mãos tão pequenas como quem grafita na areia um espelho d´água à beira mar na lua cheia  vinha vestida de letras como o som da flauta de bambu dentro do fonema veio de longe da outra margem do rio dentro da tapera o cauim me trouxe na tigela bebi como índio na hora que vê  nascer o filho beijei teus cabelos de milho e ela me perguntou quem eu   era 

quadrilha

para Ademir Assunção

 das minhas metades restaram só o nada nesse poema cego surdo  mudo mendigo de rua bunda rasgada pra lua sem rumo sem terra sem teto nas minhas metades guris nas favelas morrem de balas achadas nunca perdidas sempre pretos sempre pretos sempre pretos sempre perigo de vida  nas tenebrosas quebradas  agora também verme vírus agora também vírus verme  a morte é desenfreada pelo descaso na fala e quem deveria nos proteger só quer saber de mais um corpo na vala 


poema 7

 

aninal indesejado

poeta feito cachorro

não late a pedir socorro

nem nas entranhas do norte

 

e por todas as tribos

e trilhas no país das armadilhas

pelo futuro de Alice minha filha

o meu latido é mais forte

 

até o último suspiro

o último - delírio

vou infernizar essa quadrilha

                até na hora da morte

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